Mudanças constantes de regras irritam os pilotos

Falando ao TotalRace, brasileiros, Vettel e Alonso dizem que vão pilotar o que vier, mas preferiam menos confusão

As regras mudaram e a Red Bull continua na frente

Da manhã de sexta-feira para cá, a Fórmula 1 esteve regida por nada menos que três regulamentos diferentes acerca da utilização dos gases do escapamento para ganho de pressão aerodinâmica. Mais mudanças podem vir, com uma reunião marcada para amanhã de manha para discutir a questão. Toda a confusão, que acabou com mais uma primeira linha comandada pela Red Bull na classificação de hoje, não está agradando em nada os pilotos.

“Como alguém que está aqui há 19 anos, acho que a F-1 devia ser mais estável, a gente devia ter regras que não mudassem no meio do campeonato”, afirmou Rubens Barrichello ao TotalRace. “Acho que a FIA não está errada em pensar do jeito que pensa, mas tem muita gente tentando explicar que seu sistema funciona de determinado jeito, que usava desde 2009, e nem acho que é verdade. É um ambiente em que muita gente tem de olhar no espelho e ver o que é melhor para a F-1.”

O brasileiro criticou a falta de clareza nas mudanças. “Se a gente tivesse aqui agora uma pessoa que fizesse uma palestra explicando o que está acontecendo a portas fechadas e qual vai ser a decisão, você conseguiria explicar, mas existe muita coisa que só estamos supondo porque mudou, quem quer, quem não quer. Do meu lado, é trabalhar com os pés não chão e lidar com o que eu tenho. Vou estar pronto para guiar com escapamento soprado ou não.”

Falando ao TotalRace, Fernando Alonso seguiu a linha de Barrichello. Para o espanhol, o ideal seria que as regras não mudassem no meio do jogo.

“Acho que é muito chato para quem está em casa. Nós pilotamos, lidamos com as regras que nos dão. Entendemos, assim como todos que estão assistindo que, quanto mais estáveis as regras forem desde o início do campeonato, melhor. E vimos novamente que, com 10, 50, 100% a Red Bull segue na frente e nós continuamos os alcançando pouco a pouco. Não há grandes variações.”

Os pilotos da Red Bull, que seria o principal alvo das mudanças, também destacam o fato da equipe continuar tendo um bom desempenho.

“Acho que a equipe lidou muito bem com as mudanças. Obviamente, eu e Seb só nos preocupamos em pilotar, mas acaba ficando monótono, especialmente em uma equipe que já foi acusada de ter asas flexíveis, controle de altura, e outras coisas. A todo momento temos algo novo para falar a respeito e nas últimas semanas tem sido sobre isso”, afirmou Mark Webber durante a coletiva de imprensa depois de marcar a pole do GP da Grã-Bretanha.

Para o australiano, a discussão não faz sentido, especialmente para os torcedores.

“Espero que consigam encontrar uma solução comum. É muito chato, principalmente para os fãs, que não conseguem entender o sentido e, mesmo para nós, às vezes é difícil. Vamos nos concentrar nas corridas e que tornem as regras o mais simples possível no começo do ano.”

O líder do campeonato, Sebastian Vettel, só pensa em ir para o carro e correr amanhã – até porque dentro de seu RB7, “é silencioso e não dá toda essa falação.”

“É uma pena para nós, porque às vezes não entendo porque continuamos falando sobre isso. Para mim é bom ver qual é o carro mais rápido na pista e nada mais. Não houve nenhuma revolução. Até perdemos algo de performance, mas você se pergunta: por que confundir? Mas é assim que funciona”, afirmou ao TotalRace. “É complicado e confuso, porque às vezes é difícil para as pessoas entenderem, com tantas coisas mudando em cima da hora. É bom que, quando os carros vão para a pista, ninguém mais fale disso.”

Felipe Massa prefere ignorar o assunto. Ouvido pelo TotalRace, o brasileiro salientou como o assunto dos escapamentos é complicado para o público em geral – e até mesmo para os pilotos.

“Melhor não falar. Melhor eu, como piloto, ficar quieto e deixar quem tem de acertar isso resolver para não termos esse tipo de problema para os pilotos e os torcedores, que em sua maioria não sabem o que é um mapa de motor e porque tem aceleração em freada. É muito difícil para eles saberem isso. Já é difícil para a gente, que estamos vendo o dia-a-dia, trabalhando.”

Para Barrichello, esse tipo de problema com o regulamento é uma combinação da criatividade dos engenheiros e da dificuldade em enxergar o bem comum.

“Você tem, de um lado, a natureza competitiva das equipes, um sistema de pessoas inteligentíssimas que conseguem desenvolver coisas que estão dentro do regulamento ou muito perto disso, conseguindo tirar a melhor situação para o carro, o chassi e o motor. Por outro lado, a F-1 é de muita vaidade, todo mundo quer o melhor para si. Não existe o 'vamos ser legais e começar do zero'.”

O piloto da Williams é um dos que apoiam as mudanças. “Acredito que o objetivo maior da F-1 é desenvolver situações como o Kers por exemplo que, no futuro, será usado no carro de rua. Esse escapamento soprado não vai. É uma pena que existam tantas discussões e, como não é uma coisa unânime, é uma responsabilidade da FIA. Ouvi dizer que pode mudar para um futuro próximo. É uma pena porque são muitos altos e baixos em um mesmo final de semana.”

Tony Fernandes, dono da Lotus e recém-chegado ao esporte, defendeu que as regras sejam mais claras, até para quem o público – e ele mesmo – pudesse entender melhor o que está acontecendo.

“Como alguém que é novo no esporte, acho que é um pouco ridículo termos esse tipo de discussão. Você não vê muito isso em outros esportes. As regras precisam ser muito claras. As mudanças custam muito dinheiro. Acho que um dos perigos é mudar interpretações, tem de ser preto no branco e acho que é possível que seja. Se você olhar para a GP2, é tudo muito claro. Eu tenho uma equipe de GP2 e não temos lá esse tipo de situação.”

Fernandes comparou a situação com o futebol, que também tem suas polêmicas, mas cuja regras são mais claras.

“É claro que a Fórmula 1 é mais avançada tecnologicamente e você precisa de todas essas coisas mas acho que quem controla o esporte precisa deixar as coisas claras. Assim não teremos isso de 10% soprado, 50% soprado, quente, frio, dentro, etc. As equipes e engenheiros teriam clareza. Mesmo que nos últimos meses tivemos polêmicas no futebol, mas as regras no futebol são claras, são preto no branco, fáceis do torcedor entender. Este é um grande desafio para a F-1 porque uma pessoa na arquibancada... nem eu consigo entender o que se está falando, imagina só as pessoas lá fora! Acho que precisa ser mais simples e não acho que faça muita diferença para as pessoas que estão assistindo”. 

(Colaboraram Luis Fernando Ramos e Felipe Motta, de Silverstone)

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