ANÁLISE: As perguntas que seguem no ar após divulgação do relatório do GP de Abu Dhabi de 2021

Documento não faz qualquer referência direta a Masi ou ao seu vice na corrida de Yas Marina e pode até fazer o australiano se voltar contra a FIA

Michael Masi, Race Director

Michael Masi, Race Director

Zak Mauger / Motorsport Images

O relatório da FIA sobre a controvérsia do GP de Abu Dhabi foi publicado, e a pergunta que fica é: por que o diretor de provas da Fórmula 1, Michael Masi, perdeu o emprego? Um aspecto notável do documento, não mencionado nele, mas confirmado ao Motorsport.com por várias fontes, é que nem Masi nem seu vice em Yas Marina, Scot Elkins, foram entrevistados como parte da investigação.

Esse fato deve ser levado em consideração, mas apesar da falta de oportunidade de se defender, o australiano saiu por cima. De fato, não há críticas diretas às suas ações além da referência ao "erro humano" em relação aos retardatários atrás do carro de segurança. Em vez disso, há uma extensa explicação de por que seu trabalho era difícil e como as intervenções de rádio dos chefes de equipe tiveram um impacto em distraí-lo.

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Ao resumir as conclusões do relatório, a FIA faz a seguinte declaração significativa: "Em combinação com o objetivo de terminar sob as condições de bandeira verde aplicadas ao longo da temporada de 2021, o relatório conclui que o diretor de provas agiu de boa fé e para o melhor do seu conhecimento, dadas as circunstâncias difíceis, particularmente reconhecendo as restrições significativas de tempo para que as decisões fossem tomadas e a imensa pressão aplicada pelos times."

O relatório real não faz referência a Masi pelo nome e, em vez disso, refere-se em termos genéricos ao seu cargo. Uma parte fundamental do resumo é que ele assumiu, ou recebeu, responsabilidades demais.

Ele substituiu Charlie Whiting, um 'workaholic' que tinha mais de duas décadas de experiência para lidar com as múltiplas funções. Masi fez quase tudo o que seu antecessor fazia anteriormente, com exceção do procedimento de largada.

"O papel do diretor de provas é, por natureza, exigente e de alta pressão", diz a FIA. "No entanto, um tema recorrente na análise detalhada e no exercício de esclarecimento foi a preocupação de que o número de funções e responsabilidades que se acumularam ao longo dos anos possa estar adicionando pressão adicional."

"De 1997 a 2019, o cargo de diretor de corrida foi ocupado por Charlie Whiting. Após sua morte em março de 2019, Michael Masi foi nomeado como o novo diretor de corrida. Masi já havia ocupado o cargo de vice-diretor de provas da F1, F2 e F3 a partir de 2018. Ele também assumiu as funções de Whiting como delegado de segurança e (a partir de 2021) diretor esportivo de monopostos."

Andreas Seidl Team Principal, McLaren F1 with F1 Race Director Michael Masi

Andreas Seidl Team Principal, McLaren F1 with F1 Race Director Michael Masi

Photo by: Charles Coates / Motorsport Images

"Sugestões feitas pela Comissão de F1 e pelos entrevistados incluíram que algumas das responsabilidades do diretor de prova deveriam ser divididas e atribuídas a outras pessoas para reduzir a carga de trabalho e permitir que se concentrem em suas funções-chave, incluindo gerenciar e controlar a corrida."

Não precisa pensar muito para concluir: é um absurdo que, na era das restrições de viagem pela Covid-19 e com um calendário mais longo que Whiting experimentou, Masi também foi obrigado a visitar novos locais como Jeddah e Catar para inspeções nas pistas, além de suas funções normais nos GPs.

Claramente, ele estava satisfeito em assumir uma carga de trabalho pesada. A questão é: por que Jean Todt ou qualquer outra pessoa da organização não reconheceu que era demais?

As intervenções de rádio e sua transmissão são outra área-chave detalhada no relatório. Whiting nunca teria permitido que a TV divulgasse suas conversas com o pit wall, mas a pedido da F1 e com o apoio da FIA, Masi concordou que poderiam ser mostradas ​​em 2021.

Os críticos podem argumentar que isso mostrou uma fraqueza na imagem de Masi – que ele estava feliz por ter algum destaque e aumentar seu perfil – mas quanta pressão ele pode ter sido submetido para dizer 'sim'?

De mãos dadas com a decisão de transmitir mensagens do pit wall para controle de corrida, veio a permissão para os chefes de equipe se envolverem nas decisões, algo que nunca havia acontecido antes – mas que obviamente foi ótimo para o show. Em Abu Dhabi, o tiro saiu pela culatra.

A FIA reconhece o erro: "Grande parte do debate centrou-se em torno do propósito e adequação dessas comunicações e se deveriam ser transmitidas ou até mesmo permitidas".

"O consenso dos envolvidos na análise detalhada e no exercício de esclarecimento foi que as respectivas comunicações ao diretor de provas pelos chefes de Red Bull e Mercedes durante as voltas finais do GP de Abu Dhabi 2021 tiveram um impacto negativo no bom andamento da corrida. Elas distrairam o diretor de provas quando este precisava se concentrar em tomar decisões difíceis e rapidamente."

A verdadeira questão aqui era que Masi estava lidando com aspectos importantes de segurança e garantindo que os comissários de pista que limpavam os restos da Williams de Nicholas Latifi estivessem protegidos. Enquanto tentava retomar a corrida com as voltas se esgotando, a última coisa que ele precisava era ser incomodado pelas escuderias.

The Safety Car and Lewis Hamilton, Mercedes W12

The Safety Car and Lewis Hamilton, Mercedes W12

Photo by: Simon Galloway / Motorsport Images

A FIA observa: "Quando o safety car é acionado, o diretor de corrida deve, em particular, monitorar os carros na pista, a ordem em que são colocados, a implantação das bandeiras apropriadas, o progresso da intervenção dos comissários e, se as autoridades de pista considerarem que as condições permitam, ordenar o safety car a retornar aos boxes".

"O diretor de provas deve, portanto, gerenciar tanto os carros na pista, a intervenção do carro de segurança e o que acontece no local do incidente, ou seja, um número considerável de tarefas a serem realizadas em um tempo mínimo para permitir que a corrida seja retomada, com segurança e a maior brevidade possível, respondendo ao mesmo tempo às demandas dos chefes, o que exige muita concentração."

"Assim, descobriu-se que essas comunicações não eram necessárias e nem úteis para o bom andamento. Em vez disso, o consenso era que elas pressionavam o diretor em um momento crítico [...] e poderiam tentar influenciar (direta ou indiretamente, intencionalmente ou não) as decisões tomadas."

Como resultado direto do que aconteceu, as conversas com o controle de corrida não serão transmitidas este ano e serão fortemente restritas – de fato, um dos novos diretores, Niels Wittich, disse aos chefes de equipe/diretores esportivos no Bahrein que seu primeiro ponto de contato será um dos membros de sua staff, que atuarão como um filtro.

E os chefes, definitivamente, não poderão falar.

Mais uma vez, pode-se perguntar, por que ninguém na FIA percebeu durante 2021 que as conversas de rádio estavam ficando fora de controle e talvez pudesse ter determinado restrições para essa importante final de Abu Dhabi?

Outra conclusão clara é que Masi deveria ter mais apoio.

O controle de corrida perdeu muita experiência quando Herbie Blash saiu em 2014 e pela morte de Whiting em 2019. Além disso, o ex-vice-diretor Colin Haywood se aposentou no início de 2021, depois de servir ao lado de Masi por dois anos.

Existem boas razões pelas quais Blash e Haywood foram chamados de volta para apoiar Wittich no Bahrein.

A tão aclamada instalação de controle de corrida virtual, que funcionará como uma forma de 'VAR', fornecerá ajuda extra para Wittich e sua dupla, Eduardo Freitas.

Niels Wittich, Race Director, FIA

Niels Wittich, Race Director, FIA

Photo by: Mark Sutton / Motorsport Images

Para resumir, não há nada no relatório que diga que Masi errou ou cometeu um erro ou fez algo indevido, e isso, como observado, foi sem que ele pudesse se defender e fornecer contexto extra sobre suas ações naquela fatídica corrida em Abu Dhabi.

Quem conhece bem Masi deixa claro que ele não lidou bem com o fato de ter sido demitido. No momento, ele ainda está empregado pela FIA e desempenhando alguns dos papéis secundários que teve, mas a função pela qual trabalhou tanto foi perdida.

Houve até rumores no paddock de que o australiano pode estar ponderando uma ação legal sobre sua a demissão de seu antigo cargo. Se esse for o caso, o relatório só pode ajudar sua causa.

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