ANÁLISE: Como a Ferrari se mantém à frente na F1 mesmo sem atualizações significativas?

Gerente de operações de chassi da equipe italiana fala sobre como o bom início do carro foi crucial para abordagem atual da Ferrari

Charles Leclerc, Ferrari F1-75

Foto de: Glenn Dunbar / Motorsport Images

O F1-75 da Ferrari vem se mostrando rápido desde o primeiro dia de pré-temporada da Fórmula 1 em fevereiro, e esse ritmo vem se mantendo após as três corridas iniciais de 2022. E na Austrália, o carro do time italiano mostrou ter uma vantagem clara sobre o RB18 da Red Bull após duas corridas niveladas entre as rivais no Bahrein e na Arábia Saudita.

Um dos aspectos mais intrigantes da temporada da Ferrari até aqui é que, em contraste à outras equipes, a equipe fez poucas mudanças ao carro desde o primeiro teste, sem entregar nenhum pacote de atualizações.

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Há vários aspectos à estratégia da Ferrari. Primeiro, o carro foi rápido de cara, sem vícios óbvios. Assim como outros, ele sofre com o porpoising, mas a equipe parece ter encontrado uma forma de viver com isso, sem comprometer a performance como muitos rivais.

Crucialmente, ao não mudar o pacote toda semana, a equipe tem sido bem sucedida em estudar a fundo o carro, permitindo os engenheiros a começarem os finais de semana de corrida com um bom ajuste de cara.

Isso tem como consequência o bônus de permitir que os pilotos compreendam bem o carro, sabendo o que é necessário para extrair tudo dele, apesar de Carlos Sainz precisar de um pouco mais de adaptação em comparação à Charles Leclerc.

A imagem maior é que, ao não jogar novas peças a curto prazo para encontrar mais performance, a Ferrari tem conseguido controlar o ritmo de pesquisa e desenvolvimento. Assim, a equipe pode focar em trazer itens que sabe que funcionarão quando entregues ao carro, em vez de acelerar coisas que não foram totalmente comprovadas.

Charles Leclerc, Ferrari F1-75

Charles Leclerc, Ferrari F1-75

Photo by: Carl Bingham / Motorsport Images

Em uma era em que o teto orçamentário limita o quanto você pode fazer ao longo de uma temporada completa, isso é uma vantagem crucial.

"Para nossa sorte, o carro é bom desde o começo", disse Claudio Albertini, gerente de operações de chassi. "Então isso é uma boa notícia para nós, porque podemos focar no desenvolvimento do que é bom".

"Com esses novos regulamentos, é uma abordagem completamente diferente em relação ao passado, porque com o teto, temos que ser cuidadosos, porque cada desenvolvimento que não funciona acaba sendo dinheiro jogado fora além de não entregar performance ao carro".

"As condições são diferentes que no passado. Temos que trabalhar de modo diferente. Mas certamente temos desenvolvimentos futuros a caminho. Além disso, com essa filosofia nova do carro, há várias coisas que ainda estamos investigando e que queremos testar".

Essencialmente, a Ferrari está podendo segurar a introdução de novas partes porque o carro foi bom já de cara, com ritmo suficiente para vencer.

"Com sorte, cumprimos as expectativas. Então, de certo modo, é possível ver o potencial do carro. E, como disse, pudemos ver desde o começo do projeto as partes do carro que estavam melhor, podendo focar nelas".

"Agora entendemos que nossa primeira ideia foi boa, porque as partes importantes estão em boa forma, e seguimos nessa direção. Então ainda estamos seguindo a base do ano passado".

A Ferrari levou um assoalho diferente para Melbourne, com planos de testar no carro de Leclerc na sexta, antes de voltar à especificação normal para o resto do fim de semana. Foi um exercício de coleta de dados que ajudará nas mudanças mais permanentes mais tarde no ano, e um bom exemplo de usar com eficiência os testes de sexta.

"Tivemos um pacote no difusor", disse Albertini. "Na verdade, é uma parte que mudou a forma do assoalho. Foi um item de teste. Sabíamos desde o começo que não estaria no carro na classificação e na corrida. E isso é normal hoje em dia. Com menos testes para o carro, usamos a sexta para desenvolvimentos".

Charles Leclerc, Ferrari F1-75

Charles Leclerc, Ferrari F1-75

Photo by: Glenn Dunbar / Motorsport Images

"Obviamente, isso tinha relação com a aerodinâmica do carro. E temos como objetivo entender melhor o fluxo de ar, especialmente no assoalho e na parte inferior do carro. Esses componentes especiais têm como objetivo coletar dados. Então usamos o componente, colocamos sensores no carro, tiramos medidas e analisamos as informações em casa".

"E eles podem ter correlação com nossos cálculos, os dados do túnel de vento. E como podemos igualar o carro real e o calculado, criando uma imagem mais clara. Para os desenvolvimentos mais tarde no ano, esse é o primeiro passo".

"Não é algo projetado para ser melhor ou pior. É algo útil para nós, para termos diferentes quantias de dados para analisarmos em casa. O assoalho é obviamente a parte mais importante do carro. E a filosofia do carro é nova. Ainda estamos entender tudo. O tempo está correndo, então estamos focando em partes diferentes do assoalho, tentando melhorar no geral".

Fazer tais tipos de testes antes de sair produzindo conjuntos suficientes de novas especificações de assoalho para cobrir um fim de semana de corrida é outro exemplo de como o teto orçamentário afeta a introdução de atualizações pelas equipes.

"Como eu disse, o teto tem um impacto em nossas operações pela temporada. É importante que, quando temos um desenvolvimento, que esse componente novo seja bom, se não é dinheiro e tempo jogados fora. Compreender desde o começo nos levou a um processo de melhora em vez de trazer novas peças, jogando fora as outras. Isso também não é útil do ponto de vista do teto".

"Algumas vezes é como uma aposta. Você traz uma peça, e se ela vier antes, ok, então você está mais relaxado e pode desenvolver mais. Mas se você apostar e chegar no segundo teste com um componente e ele não funciona, fica pior".

Enquanto partes aerodinâmicas são obviamente o principal foco de desenvolvimento dos novos carros em todas as equipes, a Ferrari é mais uma a conduzir um programa para reduzir o peso do F1-75.

"No momento, corre em paralelo. Porque o peso é muito importante, com esses carros mais pesados. Certamente, redução do peso é um grande foco de nosso desenvolvimento. Temos desenvolvimento aerodinâmico, mecânico e de peso, então estamos seguindo paralelamente com programas diferentes,  analisamos qual é o mais necessário".

Charles Leclerc, Ferrari F1-75

Charles Leclerc, Ferrari F1-75

Photo by: Mark Sutton / Motorsport Images

Reduzir o peso do carro custa dinheiro mas, como lembra Albertini, os demais também.

"Mesmo uma peça leve como o assoalho é, de certo modo, muito caro. Certamente ter um carro leve significa que temos que reconstruir partes de metal com outros materiais. Então, de certo modo, é um grande custo. Mas posso afirmar que o desenvolvimento aerodinâmico, mesmo em peças sem relação com o peso, também é muito, muito caro!".

Como notado, um carro com pacote estável ajuda os pilotos a maximizarem o rendimento a cada fim de semana, já que eles se tornam mais familiarizados com os detalhes. Mas é mais uma questão de adaptação dos pilotos ou ajustes feitos para os estilos de cada um?

"O normal é que seja um pouco de ambos. Esse carro é novo para os pilotos e para nós. Tivemos que entender um pouco, porque eles tiveram que mudar o modo como pilotagem, já que esse carro tem tamanha carga aerodinâmica e uma configuração mecânica diferente em comparação a 2021".

"Ele precisa ser guiado de modo diferente. Então, como equipe, temos que entender qual é o melhor modo para as habilidades do piloto. E o piloto tem que adaptar. É um pouco de ambos, e precisamos fazer isso juntos".

Os novos pneus são um elemento que equipes e pilotos precisam entender e, novamente, um carro estável ajuda nesse processo. Por exemplo, a Ferrari percebeu que duas voltas de aquecimento com os macios são tipicamente necessárias na classificação.

Charles Leclerc, Ferrari F1-75

Charles Leclerc, Ferrari F1-75

Photo by: Zak Mauger / Motorsport Images

"É algo que varia a cada circuito. É um pouco de combinação, pneu e asfalto, as condições do ambiente. Certamente é parte dos testes que fazemos às sextas. Não é algo que você sabe quando chega, desde o começo. É algo que precisa ser testado. E você vê também o que os demais estão fazendo".

Com Maranello a uma viagem de carro de distância e o objetivo óbvio de agradar os tifosi, a Ferrari poderia estar tentada a trazer um grande pacote de atualização para o GP da Emilia Romagna. Mas com Ímola sendo um final de semana de corrida sprint, com apenas uma sessão de treinos antes da classificação, não fazia sentido corromper um pacote vencedor.

"Acho que será um final de semana difícil em termos de trazer atualizações, tentando avaliá-las no treino de sexta", disse o chefe Mattia Binotto em Melbourne. "Porque você obviamente precisa focar em si próprio para a classificação. Se olharmos para nós mesmos, não há muito o que fazer em Ímola e por isso não acreditamos ser o lugar ideal".

A grande questão agora é quanto desenvolvimento potencial pode ser encontrado no F1-75 em comparação ao RB18. E essa é uma resposta que saberemos apenas nas próximas semanas e meses.

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