Análise

ANÁLISE: Como as equipes da F1 foram de "liquidações a 1 real" para avaliações bilionárias em cinco anos de Liberty Media

Fórum realizado pelo jornal Financial Times e o Motorsport Network durante o GP de Mônaco analisou evolução da categoria nos últimos 5 anos e projeções futuras

Nicholas Latifi, Williams FW44, Esteban Ocon, Alpine A522, Alex Albon, Williams FW44, chase the pack at the start

Foto de: Jerry Andre / Motorsport Images

A Fórmula 1 vive mudanças sísmicas desde a chegada da Liberty Media como nova dona da categoria em 2017. Isso marcou uma quebra em relação ao passado, substituindo a abordagem de Bernie Ecclestone com uma versão mais focada no lucro, em uma bisão mais ampla pelo crescimento do esporte.

Greg Maffei, CEO da Liberty Media, fez um ponto interessante ao destacar o crescimento da F1 ao longo dos últimos cinco anos no Fórum Negócios da F1, realizado pelo Financial Times e o Motorsport Network em Mônaco no fim do mês passado.

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"Uma das medidas que prova que é um sucesso real é a saúde das equipes. Quando entramos em 2016, fizemos nosso primeiro investimento e fechamos o acordo em 2017, a Manor, que era a 11ª equipe, havia acabado de ser vendida em liquidação por uma libra [R$6]".

"Hoje não acho que seja possível comprar uma equipe por menos de 500 milhões de libras [R$3 bilhões], talvez 700? Dá para tentar, mas será difícil. Houve um aumento incrível de valor".

Sentado ao lado de Maffei no palco estava o CEO da F1 Stefano Domenicali, que fez um gesto com as mãos para cima quando Maffei citou os valores. Pode ser um pouco exagerado, mas há um ponto sério por trás disso: realisticamente, podemos falar de valores ainda maiores caso você realmente queira comprar um equipe.

No ano passado, o CEO da McLaren, Zak Brown, previu que "em três, quatro ou cinco anos", veremos "equipes da F1 avaliadas em mais de um bilhão de dólares, se é que alguém vai querer comprar. O fato de que ninguém quer vender, faz aumentar ainda mais".

É um desafio que qualquer um com desejo de entrar na F1 deve negociar, como vemos atualmente com a Andretti. Uma tentativa de compra da Sauber, que possui hoje uma parceria com a Alfa Romeo, foi por água abaixo no ano passado, e seus esforços para se tornar a 11ª equipe do grid parecem emperrados em meio a incertezas sobre os benefícios para o resto do grid e a F1.

Mas há vários fatores-chave que ajudaram a aumentar a avaliação das equipes de F1, mesmo em um período de dois anos, após a Dorilton Capital comprar a Williams por 150 milhões de dólares [R$718 milhões] - algo que hoje parece preço de banana.

Alex Albon, Williams FW44

Alex Albon, Williams FW44

Photo by: Glenn Dunbar / Motorsport Images

O teto orçamentário da F1

A introdução do teto orçamentário na F1 é algo que não pode ser subestimado, em termos de não apenas ajudar a proteger o valor das equipes, como também jogá-los para cima.

Introduzido no ano passado em 145 milhões de dólares, reduzido para 140 em 2022, ele está ajudando a nivelar o grid para o futuro, tornando o esporte mais competitivo e dando às equipes mais chances de brigar na frente.

Mas isso também colocou um limite na grande maioria dos custos envolvidos nas operações de uma equope de F1, o que significa que qualquer comprador potencial sabe no que está se envolvendo. Não há mais aquele tipo de volatilidade dos anos anteriores, quando as equipes corriam o risco de virar buracos de dinheiro sem fundo.

"Podemos falar sobre valores. Eles podem ser altos, mas os gastos são algo que você certamente terá", disse Domenicali. "O que estamos tentando fazer é garantir que a margem seja maior para controlar o que é gasto. Esse foi um ponto fundamental, que mudou a visão do esporte completamente, dando credibilidade ao sistema".

"Um negócio sustentável significa que as equipes podem investir, todos podem crescer no ecossistema, e todos os elementos que são relacionados ao nosso mundo agora estão seguros. Isso significa que podemos crescer e pensar em um futuro maior".

Sergio Perez, Red Bull Racing RB18

Sergio Perez, Red Bull Racing RB18

Photo by: Glenn Dunbar / Motorsport Images

O fluxo de patrocinadores e a presença do Big Tech

A era do tabaco pode ser amplamente vista como os dias de ouro nos patrocínios da F1, uma época em que o dinheiro era jogado em cima da categoria, alimentando hábitos de gastos descontrolados. Mas agora estamos em uma nova era de boom.

Saem as marcas de tabaco e entram as gigantes do mundo da tecnologia, que veem os benefícios que a F1 pode oferecer, não apenas no lado do marketing, mas também ao ajudar no desenvolvimento de suas inovações. Antes do começo da temporada, a Red Bull nomeou a Oracle, uma gigante americana, como nova patrocinadora máster, garantindo também um acordo lucrativo no campo das criptomoedas com a Bybit, uma área que também aumentou sua presença pelo grid.

Maffei afirmou que as equipes estão em uma situação na qual são obrigadas a dispensar ofertas de patrocínio, já que "o espaço para colocar logos nos carros é limitado".

"Olhe quantos desses carros têm patrocínios de tecnologia, ou múltiplos patrocínios. O crescente interesse em múltiplos níveis vem de pessoas que realmente entendem a tecnologia, e isso vem crescendo em comunidades como o Vale do Silício".

Mas Maffei também sente que o aumento de popularidade da F1 e a audiência maior que está atraindo significa que mais produtos de consumo têm interesse em trabalhar com as equipes. "O rejuvenescimento de nossos fãs trouxe também vários produtos de consumo e outras marcas, que veem o apelo em nós. Temos sorte de atrair tantos interessados".

Charles Leclerc, Ferrari greets fans

Charles Leclerc, Ferrari greets fans

Photo by: Mark Sutton / Motorsport Images

A popularidade da F1 em crescimento constante

O impacto da série da Netflix Drive to Survive no aumento de popularidade da F1 é algo debatido extensivamente nos últimos anos. Mesmo assim, seu sucesso é parte de uma estratégia maior de abertura da série, o que dá mais chances às equipes de se conectarem com os fãs.

Os resultados têm sido impressionantes. Na pesquisa global de fãs, feira em conjunto com o Motorsport Network no último ano, a base de fãs da F1 se mostrou mais jovem e mais diversa, com um grande fluxo de mulheres que acompanham a categoria. Isso dá à F1 uma audiência mais completa.

"Creditamos a Netflix por uma abertura a várias pessoas", disse Maffei. "Mas é fascinante ver quantas pessoas chegaram por diferentes meios ao longo dos anos, como games e mídias sociais. Você pode ficar online e jogar com ou contra Lando Norris nas mesmas pistas que ele corre".

"Abrir o esporte, tornando-o mais interessante, e sim, mantendo alguns elementos de exclusividade, mas são elementos abertos a todos os fãs".

James Bower, diretor comercial da Williams, sente que a Liberty vem "removendo as restrições das equipes para que eles possam engajar diretamente com os fãs, ajudando a construir a base de fãs". Recentemente, a Williams contratou o ex-vice presidente de engajamento de fãs da NFL para virar o jogo em solo americano, no lado social e digital. "Estamos construindo nossos canais sociais, nosso conteúdo, nosso engajamento com os fãs de lá. Queremos criar mais valor para a marca e parceiros".

A imagem maior que a F1 e as equipes pensam em termos de engajamento com os fãs é de grande interesse aos parceiros, o que, novamente, ajuda a aumentar o preço dos times. Os números de audiência avançam em uma direção positiva, particularmente nos EUA, onde a ESPN segue registrando recordes nas corridas. Isso também ajuda a aumentar o valor nos acordos de transmissão, dando mais rendas às equipes.

Esse aumento de popularidade se reflete também no calendário, que, pelo Pacto de Concórdia atual, está limitado a 24 corridas por ano até 2024. No próximo ano, teremos o retorno do Catar e Las Vegas. Mas as demandas de um cronograma crescente é conhecido por todos no paddock, levando a dúvidas sobre sustentabilidade. Mas, de um ponto de vista financeiro, está ajudando a categoria a trazer mais renda, aumentando os valores também".

Valtteri Bottas, Alfa Romeo C42

Valtteri Bottas, Alfa Romeo C42

Photo by: Alfa Romeo

A natureza 'fechada' do grid da F1

Por mais que siga o intenso debate sobre a presença de uma 11ª equipe no grid, graças ao desejo da Andretti, o fato é que o grid continua "fechado", um grande fator que aumenta o valor dos pilotos.

O fato de que nem todo mundo consegue montar uma equipe de F1 aumenta o valor geral do grid, algo similar a outras ligas esportivas onde as franquias são limitadas, como a NFL. Se você quiser entrar, precisa comprar uma marca já existente.

A taxa de diluição de entrada de 200 milhões de dólares, existente no Pacto de Concórdia atual para qualquer equipe novata pode parecer baixa agora, com alguns chefes de equipe afirmando que esse valor não compensaria a perda de renda como consequência da maior divisão.

Com a receita crescendo, o teto orçamentário segue estável e, em teoria, as margens devem aumentar, com a situação dando a impressão de seguir apenas por um caminho. Por isso, não surpreende ninguém no grid que não há interesse em desistir do que se tem, e a F1 não quer comprometê-los, dizendo que é uma "grande recompensa" para todos.

"As equipes investiram em nós, e é por isso que acreditamos que a continuidade das equipes precisa ser respeitada", disse Domenicali. "Hoje, não é uma questão de termos mais equipes, porque a lista de interessados é grande. Alguns falam mais abertamente que outras, mas temos várias pessoas ou investidores que querem estar na F1. Mas precisamos proteger as equipes. Esse é outro sinal de um sistema muito saudável".

Stefano Domenicali , F1 CEO, Greg Maffei, Liberty Media CEO, James Allen, President Motorsport Network

Stefano Domenicali , F1 CEO, Greg Maffei, Liberty Media CEO, James Allen, President Motorsport Network

Photo by: Steven Tee / Motorsport Images

Como serão os próximos cinco anos da F1 sob a liderança da Liberty Media?

Os primeiros cinco anos da era Liberty Media na F1 trouxeram grandes mudanças. Mas olhando para os próximos cinco, há uma determinação para garantir que esse crescimento não seja apenas mantido, mas também capitalizado.

"Temos o beneficio de sermos uma empresa de 72 anos, então pensamos no longo prazo e é isso que faremos", disse Maffei. "Temos muito interesse agora, e queremos manter o crescimento, de forma mais ampla. Fazer coisas como ir à África e pensar em sustentabilidade está incluso nesse crescimento, permeado pela pergunta de: como vamos crescer essa franquia de 72 anos nos próximos cinco?".

"Há um grande momento positivo agora. Gostaríamos de capitalizar em cima disso, não apenas financeiramente, mas também para o crescimento do esporte".

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