ANÁLISE: Por que as rivais da Volkswagen exigem garantias da F1 sobre motor de 2026?

Discussões giram em torno de dois tópicos: concessões às novas entradas e sua definição e uma possível "contaminação" da Honda no projeto Red Bull-Porsche

The cars in Parc Ferme

Foto de: Carl Bingham / Motorsport Images

A esperada chegada das marcas do Grupo Volkswagen, Porsche e Audi, à Fórmula 1 em 2026 foi bem recebida pelas rivais, mas com algumas reservas.

O esporte está claramente em um momento de alta, com novas corridas e muitos circuitos anunciando lotação máxima, além de um novo fluxo de patrocinadores, especialmente de tecnologia Por isso há um consenso de que a chegada de duas novas montadoras só acrescenta a esse crescimento.

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"Acho que estamos felizes com a chegada da Porsche e da Audi à F1, é ótimo para o esporte", disse Mattia Binotto, chefe da Ferrari. "E é ótimo para nós competirmos com tais marcas. No geral, são boas notícias, que devem nos deixar muito felizes".

"Será ótimo se o Grupo Volkswagen se juntar à F1", concordou Toto Wolff da Mercedes. "É uma ótima marca, e aumenta a credibilidade do que fazemos. E eles são corredores. Mas até onde sei não há um comprometimento firme ainda".

"Eles estão sentados na mesa de negociações pelo novo regulamento, mas enquanto essa entrada não for confirmada de fato, não temos como saber quais são seus planos".

De fato, a VW deixou claro que seu envolvimento está sujeito ao novo regulamento de motores para 2026. E nos bastidores há um debate rolando sobre concessões disponíveis para novas entradas, e como estas serão gerenciadas.

Essas concessões são chave para o plano da Volkswagen. É compreensível, já que até agora o Grupo tem relutado em entrar na F1 para competir com marcas estabelecidas sem alguma forma de ajuda para compensar os anos de experiência acumulados pelos demais.

É por isso que a VW vem esperando mudanças significativas no espectro técnico que são esperadas para 2026, mais notavelmente a queda do MGU-H. Enquanto há alguma manutenção de tecnologia, uma nova fórmula de motor cria um reinício, um novo começo para todos.

Volkswagen logo

Volkswagen logo

Photo by: Volkswagen Motorsport

Além disso, como extensão do projeto de redução de gastos do esporte, as montadoras terão que operar sob um teto orçamentário para as unidades de potência, além de cumprir restrições nos testes de dinamômetro, de forma similar ao que já acontece com as equipes na aerodinâmica.

Crucialmente, dentro dessas regras, as novas entradas poderão gastar mais no desenvolvimento e usar mais horas de dinamômetro para reduzir a diferença em relação às montadoras já estabelecidas.

Os planos da VW ainda não foram oficialmente confirmados, mas está claro que Porsche e Audi pretendem desenvolver projetos independentes de motor. A Porsche deve fazer uma parceria com a Red Bull Powertrains, enquanto a Audi focará em sua base de Neckarsulm, na Alemanha, onde gerenciou com sucesso seu programa híbrido para o WEC.

As rivais têm duas preocupações principais. Primeiro, o que exatamente significa uma nova entrada? O medo é que o projeto da Red Bull Powertrains com a Porsche possa ter raízes na propriedade intelectual dos atuais motores Honda, dando à marca de Stuttgart um bom ponto de saída, e que questiona sua posição como novata.

Os competidores também querem garantias de que os projetos de Porsche e Audi serão, de fato, independentes, e que não haverá nenhuma ligação ou compartilhamento dos recursos escassos de pesquisa e desenvolvimento que beneficiariam a ambas, contornando as restrições mencionadas.

"Acho que ainda não está claro quem realmente entrará como fornecedora de motores", disse Wolff. "E quem se declara como nova entrada. Pode acabar sendo três companhias do mesmo grupo entrando como novatas. Como posso afirmar isso? A imagem ainda não está clara".

Em teoria, os detalhes sobre o que é ou não permitido terão que ser resolvidos nos próximos meses.

"No regulamento, sabemos que o objetivo é de finalizá-lo até junho, votando-o no mesmo mês", disse Binotto. "Todas as discussões que já tivemos e que temos agora ainda consideram que Porsche e Audi se juntarão, então não é nada novo".

"E não há novas discussões relacionadas a isso. Mas ainda existem pontos em aberto no geral. Há pontos abertos sobre regulamento financeiro, porque eles precisam ser finalizados e formalizados".

"O que é uma nova entrada e como a definimos? Quais são os benefícios que uma nova entrada terá? Tudo isso precisa ser esclarecido e definido. Além disso, há a questão da transferência de propriedade intelectual, porque isso não pode ser permitido".

"Isso foi acordado. Agora, como traduzimos isso em palavras é algo difícil. Há alguns pontos no lado técnico que ainda estão em discussão aberta. Então há muitas coisas que precisam ser avançadas e finalizadas, e de agora a junho temos pouco tempo, o que significa que precisamos tratar como prioridade".

Mattia Binotto, Team Principal, Ferrari

Mattia Binotto, Team Principal, Ferrari

Photo by: Ferrari

Laurent Rossi, CEO da Alpine, compartilha dos mesmos sentimentos: ele recebe bem a chegada de novos competidores, mas quer garantias sobre como isso funcionará.

"Acho que é legal, é ótimo para o esporte. Mas precisamos de atenção a algumas coisas. Precisamos garantir que duas equipes separadas sejam duas equipes separadas. Entende meu ponto?"

"Temos que garantir que eles entrem como equipes, se eles estão trabalhando como equipes, se vem de Porsche, de Audi, ou de Red Bull ou Honda. Eles têm um tratamento específico ou não? Então, basicamente: o esporte ficará melhor ou pior com eles?".

Rossi defende que os novatos não podem receber muitos benefícios às custas das marcas que apoiam a F1 há déadas.

"De repente favorecem novas entradas e quem já está aqui fica do outro lado da história? E acho que é a mesma preocupação para a maioria das equipes, especialmente nós que somos ligadas a uma montadora, porque literalmente investimos bilhões nos últimos 20, 40 anos como Renault".

"Não para alguém chegar e receber uma fatia maior porque simplesmente estenderam o tapete vermelho. Porque isso representa uma ruptura em nosso modelo de negócio, colocando vários empregos em risco".

Christian Horner, chefe da Red Bull e CEO da Red Bull Powertrains, ainda não confirma nenhum acordo com a Porsche para o futuro, mesmo com os rivais convencidos de que já existe algum combinado, pelo menos em princípio.

Mas sua equipe está comprometida em ter um produto da Red Bull Powertrains em 2026, independente do nome que seja usado, e por isso Horner defende as concessões.

"Acho que a base que existe dentro do regulamento de motores é razoável na perspectiva de uma nova entrada", disse. "O que obviamente a Red Bull Powertrains será em 2026".

Horner detalhou as concessões financeiras que as novas entradas receberiam entre 2023 e 2025, enquanto desenvolvem os novos motores, lembrando que os atuais serão congelados a partir de setembro, com algumas partes já tendo seu desenvolvimento finalizado desde março.

"Acho que são 10 milhões de dólares nos dois primeiros anos e cinco milhões no terceiro para as novas entradas".

Christian Horner, Team Principal, Red Bull Racing

Christian Horner, Team Principal, Red Bull Racing

Photo by: Red Bull Content Pool

"Acho que o mais restritivo, e que precisa ser analisado, é que essencialmente, há apenas 15 milhões de dólares em gastos de capital permitidos em equipamentos a partir do momento em que o limite é estabelecido".

O argumento de Horner é que enquanto a Red Bull está equipando sua nova fábrica de motores com dinamômetros e mais, essa tarefa não deve estar completa até o início do próximo ano, quando entrarão em vigor as restrições sobre gastos com novos maquinários.

"Agora, quando você olha para nossos competidores, alguns casos chegam a ter 70 anos de investimento no lado dos motores, então achar que é possível ter uma fábrica totalmente equipada e funcional em oito ou nove meses é irrealista. Então acho que isso é algo que precisa ser discutido".

Enquanto isso, Wolff defende que os números são apenas parte da história".

"Se 15 milhões de gastos é suficiente ou não, há tópicos muito maiores que precisamos chegar a um acordo e que ainda não temos".

A questão da propriedade intelectual da Honda chegar ao programa da Porsche segue sendo a principal. Isso pode ajudar a explicar a decisão da Red Bull de mudar seu plano original de construir os motores atuais em Milton Keynes com peças da Honda entre 2023 e 2025 para continuar a manufaturar tudo diretamente no Japão.

Ao fazer isso, cria-se uma separação clara entre os projetos atual e futuro, e isso ajuda a preservar a alegação de que a Red Bull Powertrains se qualifica como uma nova entrada. Com discussões maiores nos bastidores, a Red Bull segue gradualmente juntando as peças de sua nova divisão. De um modo ou de outro, é algo ambicioso.

"Sobre nossas preparações, estamos dentro dos objetivos", disse Horner. "Devemos nos mudar para a nova sede em maio e o primeiro motor Red Bull deve passar pelos testes de dinamômetro até o fim do ano, então temos grandes progressos".

"São momentos emocionantes e é um projeto super emocionante. Atraímos talentos fenomenais de todos os cantos da indústria e, sim, é um novo capítulo. Mas 2026, enquanto muitos pensam que ainda está longe, na verdade, está mais próximo do que vocês imaginam".

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