Coluna do André Negrão: A Indy 500 sob a ótica do piloto

Tudo nesta prova é especial, incluindo quem está ao volante

Scott Dixon, Chip Ganassi Racing Honda

Scott Dixon, Chip Ganassi Racing Honda

Jake Galstad / Motorsport Images

Como mostramos na coluna de ontem, mistos e ovais são bichos bem diferentes. E isso logicamente reflete no trabalho dos pilotos. Eu já corri em ovais. As pessoas não imaginam, mas os ovais são tão difíceis quanto os mistos – para alguns pilotos, são até mais difíceis, chegando ao ponto de abalar a confiança.

Basicamente, a forma como você trabalha em cada pista é diferente, mas a exigência é no mesmo nível. No oval, por exemplo, o piloto não usa o freio – e só isso pode parecer assustador para a maior parte das pessoas. Basta tirar o pé do acelerador para chegar na velocidade de entrada da curva.

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Detalhes exclusivos dos ovais, como a técnica para entrar nas curvas e estratégias para alterar o traçado e atrapalhar os carros que estão na frente, você só aprende fazendo: tem que correr no oval para saber realmente como se faz.

Um problema comum na Indy 500 e em provas do WEC, onde defendo a equipe Alpine, é a largada. É um fator fundamental conseguir sair ileso desse momento, por que sempre tem alguém que parece estar sob a ilusão de que dá para ganhar a corrida na primeira curva – quando, na verdade, esse é o principal momento que pode fazer você perder suas chances de bom resultado.

Em resumo: em grids de alto nível, os acidentes na largada em provas de longa duração são sempre mais escassos por que os pilotos entendem a lógica dessas corridas, têm boas estratégias – e também não querem perder o patrocínio. A regra número 1 na curva número 1 é tomar muito cuidado para não bater ou encostar o carro em nada que possa afetar a corrida inteira.

Mas alguns erros são compreensíveis. Com a adrenalina no pico, há quem não se controle – ainda assim, do ponto de vista da equipe, é imperdoável. Por isso os pilotos passam por vários períodos de preparação. E um recurso usado por todos nesse momento são os simuladores. Nós fazemos simulações antes de todas as corridas.

No caso da minha próxima prova, as 8 Horas de Portimão, em Portugal, só meus colegas na equipe Alpine poderão usar o simulador. A pandemia me impede de ir até a França neste momento.

Assim como os pilotos da Indy 500 fizeram visando esta prova, nós fazemos simulações com todos os tipos de ocorrências: safety car, bandeira amarela, quantidade excessiva de combustível, pouco combustível, variações climáticas, tipos de pneu usados, mapas de potência do motor etc.

É uma forma de chegarmos na pista com todos os dados imagináveis, para que tenhamos um final de semana relativamente mais previsível e controlado.

Conforme a corrida vai se desenvolvendo, a gente tem algumas cartas na manga para ir jogando – mas quem toma as decisões são sempre o piloto e o engenheiro. Obviamente nessas simulações de corridas longas, o mais importante é o combustível.

Para ajudar nisso, nós temos vários ajuste de mapeamento do motor para ir usando ao longo da prova. Então o pessoal de engenharia vai nos dizendo para trocar de mapa durante a corrida, sempre visando ajustar o binômio velocidade x consumo.

Obviamente que Indianápolis te coloca durante muito tempo em uma pista que pode parecer monótona. Mas não há um segundo de tranquilidade sequer, mesmo quando você está na liderança. Qualquer erro te leva para o muro em velocidades espetaculares. Então, o seu preparo físico e mental são fundamentais. Aqui, se valoriza mais a resistência do que a força física, com destaque especial para o condicionamento mental.

Você não precisa ser mega forte para estar focado na pilotagem, mas é importante ser mais resistente. É por isso que boa parte dos pilotos se preparam fazendo longos treinos de bicicleta, andando por horas, mesmo. Eu também interajo muito com o triatlo no Brasil, que também te dá esse tipo de resiliência.

A natação é outro esporte está na minha programação e, obviamente, faço exercícios físicos voltados para a musculatura e o tipo de esforço específico da pilotagem, tudo acompanhado por um especialista. Mas os ovais são mais exigentes: se o pescoço e os ombros são duas partes que sofrem bastante nas corridas, nos ovais, com curvas sempre para o mesmo lado, é fundamental ter muito foco na parte superior do corpo.

Como todo profissional, as preferências de um piloto vão mudando conforme sua experiência de vida. Hoje em dia eu prefiro os traçados mistos. Isso é muito em função da minha formação, que foi feita em circuitos mistos. Eu voltaria a competir em ovais sem problemas. Mas atualmente estou muito feliz no WEC e na Alpine, uma categoria e uma equipe fantásticas.

Então, quando me perguntam se prefiro vencer em Indianápolis ou em Le Mans, respondo sem pestanejar que a famosa prova de 24 Horas é imbatível. Mas a Indy 500, certamente, é uma das poucas provas que podem fazer frente a ela.

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