F1 e FIA são criticadas por ajudarem países do Oriente Médio a usar esporte para encobrir violações contra diretos humanos

Carta assinada por 90 parlamentares europeus critica a categoria e a federação por facilitar o fenômeno do 'sportswashing'

Bahrain flag on a building

Foto de: Charles Coates / Motorsport Images

Dias antes do início das atividades para o GP do Bahrein, a Fórmula 1 e a FIA são alvos de diversas críticas pela realização de provas no Oriente Médio, sendo acusadas de “facilitar ativamente o sportswashing”, ou seja, usar apoiar Bahrein, a Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos na utilização do esporte como “cortina de fumaça” para cobrir os péssimos registros de direitos humanos na região.

Um grupo de 90 parlamentares europeus assinaram uma carta direcionada ao presidente da FIA, Mohammed bem Sulayem, com críticas à instituição. Entre elas, o fato da Federação e a F1 criarem um “duplo padrão absoluto”, ao condenar a guerra na Ucrânia mas ignorar o que acontece no Iêmen, um conflito armado liderado pela Arábia Saudita e com participação do Bahrein e dos Emirados Árabes, sendo considerado pela ONU como “a pior crise humanitária do mundo”.

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Além da guerra, a carta cita a maior execução em massa da história moderna da Arábia Saudita, quando 81 pessoas foram executadas no último sábado sob acusação de terrorismo e as prisões e torturas de prisioneiros políticos pró-Democracia no Bahrein, com alguns também sob risco de pena de morte.

“A coalisão [liderada pela Arábia com a participação do Bahrein e dos Emirados] cometeu crimes de guerra durante a campanha no Iêmen pelos últimos sete anos. Apenas neste ano, uma ação matou pelo menos 100 pessoas. A participação dos três países do Golfo foi recebida com silêncio pela FIA e a F1, enquanto o Bahrein é presentado pelo que se acredita ser o ‘mais longo contrato de corrida já assinado’”, diz a carta.

O documento pede que a FIA e a F1 “apliquem o mesmo padrão moral a todos os locais que correm”, em referência às decisões tomadas recentemente com relação a pilotos russos e o cancelamento do GP da Rússia de F1, exigindo a adição de uma política de direitos humanos

A carta foi enviada por Brendan O’Hara, escocês membro do parlamento britânico e conta com assinaturas de políticos do Reino Unido, Espanha, França, Itália, Irlanda, Alemanha e a União Europeia.

“Por anos, muitos cobraram a F1 e a FIA para fazerem o que é certo, mas nossas demandas foram ignoradas”, escreveu Paul Scriven, membro da Câmara dos Lordes, esfera mais alta do Parlamento britânico. “A F1 tomou recentemente uma posição clara a favor dos direitos humanos e cancelou seu contrato com a Rússia”.

“Por que então não aplicar os mesmos padrões à Arábia Saudita, Bahrein e os Emirados Árabes Unidos [palco do GP de Abu Dhabi]? A FIA precisa colocar um fim em seus negócios manchados de sangue com o Bahrein e seus abusivos vizinhos do Golfo, cancelando as corridas da F1 por lá”.

“A FIA precisa colocar suas morais à frente, tomando ação e encerrando seu papel na deplorável cortina de fumaça sobre as violações contra os direitos humanos no Golfo”.

Sayed Ahmed Alwadaei, diretor de advocacia do Instituto de Direitos e Democracia do Bahrein (BIRD), já havia liderado outro esforço mais cedo neste mês, junto de 27 ONGs, escrevendo uma carta ao CEO da F1, Stefano Domenicali, para que a categoria se preocupe com as violações contra os direitos humanos no país. Sua manifestação levou ao documento assinado pelos parlamentares.

A carta do BIRD criticou a F1 por sua “falha em engajar com a sociedade civil e reconhecer os abusos aos direitos humanos no Bahrein”, destacando o caso de Abduljalil AlSingace, que está em greve de fome há mais de 250 dias e que foi preso há 11 anos.

Nesta semana, AlSingace escreveu uma carta ao heptacampeão Lewis Hamilton, destacando o papel do britânico ao levantar questões sobre direitos humanos dentro do esporte. No ano passado, o piloto da Mercedes revelou que chegou a conversar sobre o assunto com autoridades barenitas.

“Sua preocupação genuína sobre esses casos mudaram o modo como os prisioneiros pensam sobre o esporte”, escreveu. “Para nós, você é o nosso campeão, não apenas o melhor no volante, mas também como um ser humano que se preocupa com o sofrimento dos demais. Para refletir nosso apoio a você, um novo fenômeno surgiu na prisão. Os detentos começaram a escrever ‘Sir 44’ ou ‘Lewis 44’ em suas roupas, que usamos para apoiá-lo nas corridas”.

O Reino do Bahrein declarou o seguinte, através de um porta-voz do governo:

“O Bahrein tem liderado a reforma dos direitos humanos na região, e sugerir o contrário não reflete a realidade atual."

"O Bahrein tem as proteções efetivas dos direitos humanos mais sólidas da região. Órgãos independentes, tais como a instituição para os direitos humanos Ombudsman – a primeira deste tipo no Médio Oriente –, protegem e investigarão qualquer questão relacionada com os direitos humanos. As reformas do código de conduta da polícia e a formação abrangente apoiam uma política de tolerância zero em relação a qualquer tipo de 'maus-tratos', e a reforma da justiça penal, quer relacionada com a reforma judicial quer com penas alternativas, assegura melhores proteções e resultados."

"A tentativa de isolar o Bahrein no calendário de Fórmula 1 é absurda, carece de contexto e compromete gravemente os enormes progressos e a liderança que o Bahrein tem demonstrado nesta área."

"O Bahrein acolhe e apoia ativamente o papel que a Fórmula 1 pode desempenhar ao lançar luz sobre questões de direitos humanos em todos os países em que opera, agora e no futuro".

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