ANÁLISE F1: As 'pontas soltas' da 'treta' entre os Wolff e a FIA

Editor global de Fórmula 1 do Motorsport.com, Jonathan Noble esmiúça o caso; confira

Toto Wolff, diretor de equipe e CEO da Mercedes AMG, esposa e Susie

Foto de: Mark Sutton / Motorsport Images

A decisão da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) de desistir de sua investigação sobre um suposto conflito de interesses entre o chefe da Mercedes na Fórmula 1, Toto Wolff, e sua esposa Susie, diretora da categoria suporte feminina F1 Academy, 'encerra' mais um capítulo polêmico na elite global do esporte a motor ao longo do ano de 2023, após temporadas cujas disputas na pista não foram tão competitivas em meio ao domínio de Max Verstappen e Red Bull.

Mas as consequências da decisão da FIA de declarar que estava investigando um possível conflito de interesses em relação ao repasse de informações confidenciais entre os Wolffs permanecerão por um bom tempo. 

O editor recomenda:

Ainda há um 'gosto amargo' após tudo o que aconteceu, porque nenhuma das partes 'saiu bem' após as controvérsias da semana. Os Wolff, a Mercedes e a F1, cuja estrutura 'abriga' a F1 Academy, tiveram suas reputações manchadas pelas alegações, enquanto a mídia foi envolvida em uma névoa de desinformação, ao passo que as ações da FIA fizeram com que a entidade fosse alvo de críticas pesadas.

Tudo era totalmente evitável, pois o caso poderia ter sido conduzido em particular e resolvido sem a necessidade de que ninguém no 'mundo exterior' soubesse. Mas foi justamente o fato de as coisas terem se tornado públicas -- aliado à disparidade entre o discurso da FIA sobre reclamações feitas por rivais da Mercedes e a posterior negação desta tese por parte das concorrentes das Flechas de Prata -- que deixou algumas dúvidas sobre todo o caso. Vamos tentar respondê-las?

O que motivou a investigação?

Embora fontes da FIA tenham sido inflexíveis quanto ao fato de que alguns chefes de equipe da F1 tenham entrado em contato com o órgão reclamando sobre o suposto repasse de informações a Toto por Susie -- tese que foi encampada por meios de comunicação --, os posicionamentos oficiais das escuderias afirmam o contrário, no que representa a maior 'confusão' de toda essa saga...

Obviamente, há uma grande diferença entre uma equipe que apresenta uma reclamação oficial sobre o comportamento de um rival e um chefe que faz uma reclamação discreta numa conversa de paddock. Mas o último comportamento não costuma ser motivo para grandes investigações.

Toto Wolff, Team Principal and CEO, Mercedes-AMG, Imola trophies for Charity

Foto de: Fórmula 1

Toto Wolff, chefe de equipe e CEO da Mercedes-AMG, troféus de Imola para caridade

Então, quais conversas realmente ocorreram, e entre quem? Se não houve nenhuma reclamação formal sobre a situação, uma única notícia -- mesmo que tenha provocado algumas perguntas da mídia -- foi suficiente para justificar uma investigação tão grande?

Em última análise, é dever da FIA garantir que os regulamentos sejam cumpridos -- ela até falou sobre integridade e justiça em sua declaração anunciando o fim da investigação, mencionando compliance.

Mas, da mesma forma, há uma grande diferença entre passar pelo devido processo para analisar algo em particular e confirmar que tudo está em ordem, e depois ir a público e fazer um grande alarde sobre isso.

Por que a FIA estava tão 'ansiosa' para tornar isso público?

Talvez o aspecto mais desconcertante de todo esse caso lamentável seja o motivo pelo qual a FIA sentiu a necessidade de tornar público que seu departamento de compliance estava investigando a situação.

Normalmente, uma declaração desse tipo só seria feita se houvesse fortes evidências que sugerissem a ocorrência de uma violação dos regulamentos e se houvesse um caso a ser respondido.

Normalmente, espera-se que tais situações sejam tratadas a portas fechadas -- até mesmo em ligações telefônicas particulares entre a FIA e os indivíduos envolvidos -- antes que o assunto chegue ao domínio público.

Portanto, a decisão da FIA de emitir sua declaração, antes mesmo que a Mercedes, os Wolff e a F1 soubessem de qualquer coisa, continua sendo bastante difícil de entender. Isso é uma verdade ainda 'maior' considerando que parecia não haver quase nada que baseasse a denúncia.

O anúncio da FIA, nesta quinta-feira, de que estava cancelando seu inquérito, dizia que a decisão foi tomada após uma simples revisão de documentos, de modo que nunca houve, de fato, uma investigação adequada dos eventos.

O comunicado informou: "O Código de Conduta da Fórmula 1, a Política de Conflito de Interesses da Fórmula 1 e medidas de proteção apropriadas estão em vigor para mitigar quaisquer conflitos potenciais. A FIA está convencida de que o sistema de gerenciamento de compliance da Fórmula 1 é robusto o suficiente para evitar qualquer divulgação não autorizada de informações confidenciais".

Essa confirmação por parte da FIA de que tudo está em ordem na F1 com relação ao compliance poderia e deveria ter sido feita muito antes da necessidade de tornar todo o caso público.

Em sua declaração de quinta-feira, a FIA disse que reafirmou seu compromisso com a "integridade e a justiça". Mas o órgão dirigente não pode deixar de perceber que o fato de tornar o caso público não foi exatamente "justo" com os Wolff, a Mercedes ou F1, aos quais se lançaram várias suspeitas.

Será que há uma 'agenda privada' em jogo?

Mohammed bin Sulayem, President, FIA

Foto de: Steven Tee / Motorsport Images

Mohammed bin Sulayem, presidente da FIA

A decisão da FIA de tornar público o envolvimento do departamento de compliance foi vista por alguns como parte de uma agenda que seu presidente Mohammed ben Sulayem tem contra Toto Wolff.

Mas, embora possa haver suspeitas de que isso seja parte de uma trama maquiavélica, a realidade pode ser mais simples: o caso de agora meramente segue o padrão ben Sulayem de 'agressividade política' em busca do que o mandatário acha que é a coisa certa a fazer, mesmo que isso esteja em desacordo com o que os outros acham que é certo. Foi a lógica que valeu para Mohammed quando ele falou sobre quanto a F1 custaria e sobre um possível retorno de Michael Masi à FIA.

É uma abordagem muito diferente dos approaches dos presidentes anteriores da FIA, que se concentraram mais no panorama geral e nas implicações de longo prazo. Ben Sulayem pode ter visto a declaração pública do caso Wolff como uma simples evidência da transparência da FIA e de que ela estava disposta a ir além para investigar qualquer suspeita de violação das regras, em vez de se conter e perceber o potencial dano causado.

Poucos (até mesmo dentro da FIA) agora duvidam que a melhor coisa a fazer teria sido abordar tudo em particular, em vez de provocar a tempestade que se viu no noticiário da F1 nos últimos dias.

O que acontecerá em seguida?

Embora a FIA possa esperar que o cancelamento de sua investigação seja o fim da polêmica, é quase certo que isso não acontecerá. Do ponto de vista de Wolff/Mercedes, depois de uma semana em que as reputações foram atingidas, isso não é algo que será esquecido rapidamente.

Entende-se que estão em andamento discussões entre a FIA e a Mercedes sobre as consequências, e isso provavelmente incluirá alguma forma de reparar qualquer possível dano reputacional que possa ter ocorrido.

Toto Wolff, Team Principal and CEO, Mercedes-AMG

Foto de: Sam Bloxham / Motorsport Images

Toto Wolff, diretor de equipe e CEO da Mercedes-AMG

Será interessante ver se haverá algum pedido público de desculpas por parte da FIA ou de ben Sulayem sobre como as coisas foram tratadas nesta semana. Daqui para frente, está claro que a FIA precisa aprender algumas lições importantes sobre como lidar com essas questões no futuro.

Fazer com que o departamento de compliance verifique se todos estão seguindo a letra da lei é uma coisa, mas arrastar esses assuntos para o domínio público é outra. Sabendo muito bem que toda essa saga Wolff poderia ter sido resolvida com algumas ligações telefônicas e emails -- em vez de ser alimentada e explodir na mídia --, a expectativa é que o episódio sirva como um guia para as melhorias que devem ser feitas no futuro.

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