Clima quente e úmido da Malásia é sacrificante para os pilotos

Treinador explica porque Barrichello chegou a “ver sereia no final da corrida” por desidratação durante uma das etapas mais duras do ano

Os pilotos costumam usar um colete térmico para manter o corpo o mais frio possível antes da largada

Não é à toa que, quando se fala em Malásia, a primeira palavra que vem à cabeça dos pilotos é “sacrifício”, como explicou Rubens Barrichello ao TotalRace. “Cheguei a ver sereia no final da corrida por falta de água. Realmente, tem vezes que você larga com um litro e meio de água no carro e, faltando 10 voltas para acabar, aperta o botão e percebe que não sobrou nada. Aí, é normal ver um monte de coisa.”

O especialista em treinamento de pilotos Vanderlei Pereira explica que as "sereias" de Rubinho são resultado de desidratação, o pior fantasma dos pilotos na Malásia.  “A partir do momento em que se perde 1%, 2% do peso corporal por meio do suor, começa a haver tontura e queda de performance,  concentração e potência muscular.”

Não é por acaso que sempre vemos os pilotos portando garrafas d’água antes da corrida e mesmo durante as sessões de treinos. “Na quinta-feira, o piloto é pesado para identificarmos sua massa normal. Depois, vamos acompanhando para determinar o quanto de líquido ele terá de ingerir”, revela Pereira, responsável pela preparação de Felipe Massa. “Todo dia, eles se pesam de manhã e à noite para checar se a reposição está correta.”

E, como não perdemos apenas líquido no suor, é necessária a reposição com sais minerais, como sódio e potássio, por meio de bebidas isotônicas. O calor desgasta, ainda, o equipamento. “E um carro desgastado dá mais trabalho para o piloto.”

O clima na Malásia é semelhante ao de cidades brasileiras próximas à Linha do Equador, como Manaus ou Belém. No ano passado, os treinos livres foram disputados sob um calor de 35º de temperatura ambiente, 52º na pista e umidade relativa do ar de 58%. Tudo isso faz com que a sensação térmica seja ainda maior. “O único paralelo na temporada é Cingapura”, compara o treinador.

Diferentemente da prova de Marina Bay, entretanto, o GP da Malásia ocorre no momento em que os pilotos estão em seu auge do ponto de vista físico. “É bom que a prova seja realizada no começo do ano, porque todo o trabalho que feito em novembro e dezembro com corridas a pé tem de ser pago nessa etapa. No final do ano, você não está tão preparado quanto no início”, lembra Barrichello.

Além do cuidado especial com a hidratação, os pilotos também trabalham com a aclimatação. “Fazemos treinos cardiovasculares na hora da prova (16h, pelo horário local) ou até um pouco mais cedo, quando está ainda mais quente, por quatro ou cinco dias. Assim, o corpo vai se acostumando ao esforço, os batimentos cardíacos caem e o piloto sofre menos. Mas para quem fez a preparação em um país tropical, como o Felipe, é mais simples”, garante Vanderlei.

Já o traçado malaio não apresenta grandes desafios: apenas algumas curvas de raio longo, que geram mais força no pescoço. “Chega a 3,5 G, não deve ser um problema para quem fez pré-temporada em Barcelona, quando se dá muito mais voltas com pouco mais de 4 G”.

Assim como Fernando Alonso e Lewis Hamilton assinalaram após a corrida da Austrália, Vanderlei afirmou que Felipe Massa também chegou bastante ‘inteiro’ depois da prova de abertura da temporada. Isso é uma consequência direta do ritmo mais lento imposto pelos novos pneus. “Em se tratando de Pirelli, nunca se sabe se vai continuar assim. O pneu mudou tanto da pré-temporada para a primeira corrida que não sabemos em que direção vai evoluir”, aponta o treinador.

Neste ano, o calendário reserva apenas uma semana de descanso entre os GPs da Malásia e da China. Nada, contudo, que preocupe Barrichello. “Acho que abrir a dobradinha é melhor do que fechar. Abrindo na Malásia você tem o desgaste e, depois três ou quatro dias para tentar repor todo o seu líquido, segue para a China, uma pista difícil, mas com longas retas, nas quais dá para respirar bastante.”

(Colaborou Felipe Motta)



Vanderlei Pereira, 42, dono da V10 Treinamento Esportivo, trabalha com Felipe Massa, Lucas di Grassi e diversos pilotos das categorias brasileiras. Estará sempre no TotalRace nas semanas de Grande Prêmio explicando quais as necessidades especiais de preparação física para a prova.

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