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Ímola, 20 anos: "Morri por seis minutos", lembra Rubinho sobre acidente de sexta

Brasileiro foi o primeiro a sofrer grave acidente naquele fim de semana e relembra momento ao TotalRace

Ímola, 29 de abril de 1994. Há exatos 20 anos começavam as atividades na pista daquele que seria um dos fins de semana mais trágicos da história da F1. E logo no primeiro treino livre, um grande susto. Ao volante de sua Jordan, a promessa brasileira Rubens Barrichello escapou na curva Variante Bassa, seu carro decolou ao subir na zebra e bateu no topo da barreira de pneus, capotando em seguida e parando de cabeça para baixo. O piloto ficou totalmente inconsciente.

Em depoimento exclusivo ao TotalRace, Rubinho lembrou seu acidente, a “morte por seis minutos” relatada a ele pelo médico Sid Watkins, o medo de sentir medo na volta às pistas e as consequências de tudo o que ocorreu na sua carreira após aquele fim de semana trágico que resultou nas mortes do austríaco Roland Ratzenberger e de Ayrton Senna. Veja o relato de Barrichello.

A expectativa para a corrida:

“Eu estava super contente porque eu tinha um carro que, apesar de não ter tanta potencia no motor Hart, era muito equilibrado. Eu vinha de um resultado excelente, meu primeiro pódio no GP de Aida, então eu estava muito esperançoso. No treino da manhã, a gente não havia colocado pneus novos e eu me lembro muito bem que, até o momento da pancada, eu já vinha oito décimos mais rápido e esse tempo me colocaria facilmente entre os oito primeiros, numa pista em que o motor era muito importante, pois fazia toda aquela parte da Tamburello com pé no fundo. Eu vinha de um momento ótimo. O 4º lugar no Brasil e o 3º em Aida me deixavam em segundo lugar no campeonato naquele momento.”

A batida:

“Apaguei totalmente na hora. Foi uma pancada de 90g - 90 x 72kg, meu peso na época - e o Sid Watkins, que era o doutor que cuidava da gente naquele tempo, me disse que eu morri por seis minutos. Na pancada, eu engoli a língua. Ele não precisou fazer traqueostomia, mas a pancada foi tão forte que eu tive traumatismo e toda aquela situação de apagar. E eu tenho consciência disso pelo fato de não lembrar muita coisa pós acidente. Eu fiquei um mês, mais ou menos, com uma memória curta.

Muito depois do acidente, vi muitas fotos, muitos vídeos. Então não tenho certeza se minha fita voltou e está indo pra frente com o passar do tempo ou se eu tenho uma memória de ver as fotos e lembrar. Eu não tenho lembrança, por exemplo, daquele dia no hospital. Não tenho lembranças do Ayrton no ambulatório, apesar de todas as fotos e de dizerem que eu já estava acordado. Esses momentos eu não lembro. O que está acontecendo é que, com o passar do tempo, estou indo pra dentro da pancada. Acho que a fita voltou um bom processo pra trás e ela está indo pra frente. Eu já me lembro daquele: ‘Ops, vai bater!’”.

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A noite no hospital e a alta:

“Acredito ter dormido no hospital de Bolonha, mas essa memória não é vívida. Eu acredito ter dormido lá porque era o local onde todos os pilotos eram levados em caso de acidente e com certeza eu dormi em um hospital, então deve ter sido lá. Não me lembro se estava na pista no momento do acidente do Ratzenberger (Roland, piloto austríaco, que morreu sábado) ou se já havia ido embora, mas no sábado eu fui até a pista, inclusive até o motorhome do Ayrton pra agradecer, pois todos diziam que ele havia ido até o ambulatório e tal. E eu estava com a boca muito inchada porque eu quebrei o nariz. Eu cheguei à pista com a boca inchada, o nariz todo quebrado e o braço engessado, porque houve uma fratura do braço esquerdo. Eu lembro de ver o Ayrton ou de ver a minha foto com o Ayrton em um momento em que ele não estava treinando. Então, eu não sei se eu saí da pista antes do acidente ou não. Eu recebi alta muito rapidamente. Não me liberaram para a competição, mas eu estava liberado pra viajar e, inclusive, eu peguei um vôo para a Inglaterra naquele sábado e eu assisti a prova pela TV em casa, na Inglaterra.”

O acidente de Senna:

“Aparentemente era um domingo tranquilo, porque eu estava com toda a moçada que  morava comigo: o Gualter Salles, o Roberto Xavier e o Ricardo Rosset, que eram meus companheiros daquela famosa casa em Cambridge. Dividíamos a casa, enquanto tocávamos a carreira. Nós assistíamos a corrida juntos e, com a pancada, o silêncio foi total, mas quando ele mexeu a cabeça, houve uma alegria muito grande. Naquele momento foi o último suspiro, mas a gente não sabia. A gente achava que, com aquilo, ele fosse levantar do carro. Eu me lembro de tentar telefonar para o Galvão (Bueno), para o Reginaldo (Leme), para aqueles que estavam na pista, pra tentar entender o que estava acontecendo. Naquele dia, eu embarquei no domingo à noite pro Brasil, mas não tenho memória de quem que me disse o que aconteceu. As notícias eram muito ruins. A TV inglesa mesmo parou de passar qualquer programação para ficar em frente ao hospital, aquela coisa toda. Então quando isso acontecia, a situação não era boa.”

Medo de ter medo:

[publicidade] “A corrida seguinte eu já participei. Eu tive um teste na segunda-feira seguinte em Silverstone e foi um dos meus maiores testes de vida porque eu tinha medo de ter medo. Eu, que sempre entrei num carro de corrida com muita paixão, fui para Inglaterra com um pouco de receio, pensando se o medo era alguma coisa que pudesse vir à tona. Aí eu decidi sair que nem um maluco. Ou ir pra bater de novo ou ir pra fazer meu melhor tempo em Silverstone. E eu, graças a Deus, fiz meu melhor tempo em Silverstone. Foi o recorde da Jordan naquele dia e dali pra frente eu decidi que era aquilo mesmo que eu queria. Sem dúvida, foi o acidente mais grave da minha carreira. A minha manchete daquela situação toda seria: ‘medo de ter medo’. Foi uma definição na minha vida. Se fosse só do acidente, a manchete seria: ‘susto’. Mas o medo de ter medo foi aquilo que definiria toda a minha carreira. Na prova seguinte, em Mônaco, com o nariz quebrado, eu tinha um problema grande de respiração. Dentro do capacete eu tentava respirar e escutava aquele mesmo barulhinho de quando a gente está com o nariz entupido. Lá em Mônaco não tem retas pra respiração, mas era aquilo que eu queria e minha carreira se desenvolveu por aí.”

Aprendizado e carreira pós-Ímola 94:

“Tudo na vida é muito positivo. Os momentos difíceis são aqueles que nos ensinam, que nos fazem melhores. Todo o meu aprendizado nos 19 anos de F1 foram muito positivos. Eu diria que foi uma dificuldade muito grande ir a todas as pistas, visitar todas as pistas, ver os cartazes de Ayrton Senna e não tê-lo conosco. O emocional foi muito difícil de conter, mas foi ainda mais difícil quando voltei ao Brasil no ano seguinte, em 1995, o primeiro ano sem o Ayrton. Eu diria que a maior tristeza e interrogação é que, se ele tivesse lá, ele correria mais pelo menos cinco anos e o grau de competitividade dele talvez começasse a baixar quando ele estaria me ajudando a subir. Então, eu cheguei com uma responsabilidade muito cedo, talvez uns três anos muito cedo, aos 21 anos de idade. A responsabilidade foi grande, mas me fez melhor, porque hoje eu realmente sei lidar com toda a pressão. Mas se tiver alguma coisa que eu pudesse apontar eu acho que foi uma pena muito grande ele não estar lá, inclusive, pra ajudar, porque provavelmente ele teria guiado uma Ferrari e aberto portas em outras equipes competitivas para que eu pudesse entrar”.

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