ANÁLISE F1: O fator Albon na negociação entre Sainz e Ferrari

Jonathan Noble, editor global de F1 do Motorsport.com, e Roberto Chinchero, repórter do Motorsport.com Itália, analisam a situação; confira

Carlos Sainz, Ferrari

Foto de: Ferrari

Na semana passada, a Ferrari anunciou um novo contrato de longa duração com o monegasco Charles Leclerc, mas a situação do outro piloto do time, Carlos Sainz, segue indefinida, apesar de o espanhol ter deixado claro que gostaria de resolver tudo antes do início da Fórmula 1 2024.

Falando exclusivamente ao Motorsport.com em junho passado sobre a situação, Sainz disse: "Não vou mentir, não gosto de entrar no meu último ano de contrato sem saber realmente onde vou correr no ano seguinte".

O editor recomenda:

"Passei por esse processo com a Red Bull e a Renault e sei que não é o ideal como atleta e como piloto. Simplesmente não é a coisa certa. E é por isso que coloquei esta intertemporada como referência para tentar resolver meu futuro."  

Essa postura também não estava em desacordo com a preferência da própria Ferrari. O chefe da equipe, Fred Vasseur, chegou a deixar claro durante seu almoço anual de Natal em Maranello que resolver os contratos dos dois pilotos da Scuderia antes de voltar a correr era um "objetivo" claro.

"Nós nos reunimos e iniciamos as discussões, mas estamos um pouco atrasados. Não considero isso um problema, tomaremos uma decisão em breve", falou na ocasião o dirigente francês do time de F1.

Embora ainda faltem cinco semanas para o fim do 'prazo provisório', o fato de a escuderia ter optado por fazer o anúncio de Leclerc 'sozinho' -- em vez de esperar e divulgar os dois pilotos ao mesmo tempo -- levou algumas pessoas a sugerir que as coisas podem não estar tão bem encaminhadas quanto se esperava. Entende-se que Sainz está buscando uma extensão de dois anos, que o levará até o final da temporada de 2026, mas um acordo ainda parece muito distante.

E, embora as conversas entre o piloto espanhol e a equipe italiana estejam em andamento, há rumores de que o anglo-tailandês Alexander Albon é uma alternativa séria, já que se acredita que o piloto da Williams estará sem contrato no final deste ano.

Mas, por um lado, é perfeitamente possível que a situação esteja sendo interpretada de forma exagerada em relação ao anúncio de Charles pela Ferrari, pois, ao contrário de outros times, a equipe raramente anuncia os dois pilotos ao mesmo tempo.

Além disso, ainda há muito tempo para a Ferrari, depois de resolver a situação de Leclerc, fechar o contrato de Carlos e dar à equipe total segurança de piloto pelo menos nos próximos dois campeonatos.

A dupla Sainz-Leclerc

Charles Leclerc, Carlos Sainz, Ferrari

Foto de: Ferrari

Charles Leclerc, Carlos Sainz, Ferrari

Do ponto de vista da Ferrari, parece haver poucos motivos para questionar se Sainz está ou não à altura de permanecer na equipe. Seu desempenho nas três temporadas em Maranello foi excelente e a combinação com Leclerc criou uma das duplas mais completas no paddock. Leclerc tem um grande talento natural que lhe permite se destacar, enquanto Sainz é um profissional com grande know-how e sensibilidade técnica - qualidades bem úteis para os engenheiros. 

Os dois pilotos são muito equilibrados e quaisquer diferenças entre eles são marginais, mas, em última análise, elevam a força geral da equipe. No entanto, o fato é que as negociações entre a Ferrari e os representantes de Sainz estão demorando mais do que o esperado.

E o silêncio sobre o progresso só serviu para alimentar as especulações sobre o que realmente está acontecendo. O que é óbvio, porém, é que Sainz está em uma posição muito mais forte para negociar seus termos do que da última vez.

Em 21 de abril de 2022, a renovação do espanhol para as temporadas 2023 e 2024 foi anunciada em um momento em que Leclerc havia conquistado duas vitórias e um segundo lugar nas três primeiras corridas, enquanto Sainz havia sido segundo no Bahrein e terceiro na Arábia Saudita.

Dois anos depois, é muito provável que Carlos esteja de olho em melhores condições, não apenas no aspecto financeiro, mas também em outros elementos contratuais, como a duração do vínculo, por exemplo.

É quase certo que não foi coincidência o fato de a Ferrari ter evitado comunicar a duração de seu novo acordo com Leclerc, já que esse é um dado sensível para entender a estratégia de longo prazo da Scuderia

Se, como se supõe, o acordo for por três temporadas até o final de 2027 (com opção para as próximas duas), será mais uma confirmação de que Maranello vê Leclerc como seu ativo fundamental para o futuro.

Nesse cenário, não é fácil para Sainz se encaixar em seu 'papel'. Não há nenhuma sugestão de que a Ferrari tenha um rótulo claro de piloto número um e número dois, mas há outras prioridades -- como parceiros comerciais e foco na mídia -- em que as equipes preferem se basear em um piloto.

Dito isso, vitórias são tremendamente importante para se estar com moral em relação aos comandantes da equipe. Isso ficou óbvio no GP de Singapura do ano passado, quando todo o time da Ferrari se uniu em torno de Sainz, que se tornou o único 'não-Red Bull' a vencer em 2023.

Em última análise, a Ferrari sabe que Sainz representa a melhor escolha possível para o período de dois anos entre 2025/26, e Carlos sabe igualmente bem que permanecer mais dois anos em Maranello é a melhor opção para sua carreira. Mas, à medida que as negociações se arrastam, chegar a um acordo pode exigir concessões de ambas as partes. Enquanto isso, há concorrentes 'de olho'.

Será que Albon é um plano alternativo?

Carlos Sainz, Scuderia Ferrari, Charles Leclerc, Scuderia Ferrari, Alex Albon, Williams Racing

Foto de: Mark Sutton / Motorsport Images

Carlos Sainz, Scuderia Ferrari, Charles Leclerc, Scuderia Ferrari, Alex Albon, Williams Racing

Em um cenário em que as discussões entre Sainz e Ferrari chegam a um impasse, o que é importante entender são as outras opções disponíveis no mercado. A decisão do britânico Lando Norris de se comprometer com a McLaren significa que ele foi 'tirado' da equação por um tempo. 

Portanto, se a Ferrari quiser alguém que se encaixe no perfil de um 'jogador de equipe' para 2025 e além, alguém com bom conhecimento técnico e compreensão do funcionamento das grandes equipes, Albon é um candidato óbvio.

No ano passado, houve especulações na Itália de que ele era a opção preferida da Ferrari para o longo prazo -- mas isso foi negado na época por Vasseur, que disse que era muito cedo para pensar em negociações de pilotos.

O piloto anglo-tailandês é considerado um agente livre para 2025 e, apesar de adorar sua vida na Williams, a atrativa possibilidade de se juntar a uma gigante como a Ferrari seria algo difícil de recusar.

Além disso, no ano passado, Albon disse que não tinha pressa em fechar um contrato com a Williams justamente porque queria deliberadamente ver o que estava disponível no mercado. "Acho que tenho confiança em mim mesmo para me manter aberto", afirmou ele.

"Quero me dar a chance de lutar por vitórias e pódios. E será que podemos levar esta equipe [Williams] a brigar por essas coisas?", ponderou o reflexivo Alex. Em entrevista exclusiva ao Motorsport.com Brasil no GP de São Paulo de 2023, em Interlagos, ele adotou o mesmo tom.

Quanto a Sainz, se a Ferrari seguir o caminho de um outro piloto, isso certamente não significará o fim da carreira de Carlos na F1. Ele tem sido ligado à Audi - e elogiou a marca alemã recentemente após a vitória de seu pai com ela no Dakar - e até mesmo a Aston Martin seria uma boa opção.

Mas é justo dizer que, tanto para Sainz quanto para a Ferrari, permanecer juntos oferece mais garantias do que seguir caminhos separados. A ver os próximos capítulos da negociação entre as partes.

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