Entrevista

Da Matta sofre com morte de Wilson e diz: "sou um milagre que anda"

Piloto brasileiro, que feriu seriamente a cabeça e chegou a ficar internado por dois meses após atropelar um veado, defende os cockpits fechados

Cristiano da Matta e família

Cristiano da Matta e família

Cristiano da Matta
Cristiano da Matta
Cristiano da Matta
Cristiano da Matta
Cristiano da Matta
Cristiano da Matta
Race winner and 2002 CART Champion Cristiano da Matta
Cristiano da Matta has a confident look
Cristiano da Matta and Roberto Moreno
Cristiano da Matta e Emerson Fittipaldi
Cristiano da Matta e seus irmãos
Cristiano da Matta
Cristiano da Matta e família

Poucos pilotos são tão francos e simpáticos quanto Cristiano da Matta. Mineiro, de sotaque arrastado, o brasileiro conseguiu uma carreira vitoriosa nos Estados Unidos. Depois do título em 2002 na Champ Car, competiu na Fórmula 1 pela Toyota em 2003 e 04. De volta às pistas americanas, viveu uma experiência no dia 3 de agosto de 2006 que mudaria sua vida para sempre.

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Em um teste em Elkhart Lake, Da Matta acertou em cheio um veado que invadira a pista. Sua cabeça foi atingida e o piloto ficou entre a vida e a morte por mais de 60 dias. No hospital, além de sua família, alguns bons amigos. Justin Wilson, morto na semana passada após também ser atingido na cabeça, era um deles.

Em entrevista exclusiva ao Motorsport.com, "Kiki", como é conhecido pelos mais próximos, disse ser favorável ao cockpit fechado em monopostos, contou como é sua vida em família atualmente e afirmou que foi um milagre ter sobrevivido ao impacto de seu acidente. Confira a conversa:

MOTORSPORT: Você acompanhou o acidente do Justin Wilson?

CRISTIANO DA MATTA: Eu estava indo para a França de domingo para segunda e não estava sabendo de nada, não assisti à corrida. Quando cheguei lá, peguei o telefone e vi que muitos amigos estavam comentando, dando detalhes. Vi também que meu pai e irmãos estavam falando pelas redes sociais, até um momento que um rapaz mandou o vídeo do acidente num dos grupos que participo.

Éramos companheiros de equipe, tínhamos um relacionamento muito bom, nos tornamos grandes amigos. Quando eu estava machucado ele esteve sempre presente no hospital, ajudou minha família, dando uma força.

Ficamos chateados demais, pois era uma pessoa que sempre esteve perto diante da situação que passamos, chegamos a conhecer a família dele também. Então foi muito chato, porque tínhamos uma relação muito mais próxima. Toda minha família sofreu com sua morte.

MOTORSPORT: Você é favorável aos cockpits fechados?

DA MATTA: Eu sou a favor. Não podemos ir só pelo lado da história. No início ninguém tinha pensado em um carro como ele é hoje. Os carros de hoje chegaram em um nível de segurança, que em um acidente o piloto nem se arranha, por maior que seja o acidente. Há quanto tempo você não houve falar em osso quebrado em Fórmula 1 ou Fórmula Indy, que é algo mais agressivo por causa dos ovais? Antigamente a maior preocupação era com o corpo do piloto, caso quebrasse o braço ou a perna. Se analisarmos friamente hoje, o corpo do piloto está muito bem protegido, diferentemente da cabeça. Já na época dos acidentes do Senna e do Ratzenberger a cabeça já vem sofrendo mais do que o restante do corpo. O caso do acidente do Felipe Massa, por exemplo, é uma situação que acontece uma vez em um milhão, mas acontece. Qual a probabilidade de um piloto bater a cabeça em um trator? (ao se referir a Jules Bianchi) Qual a probabilidade de um piloto atingir um veado e bater a cabeça nele? A mesma, mas acontece.

MOTORSPORT: Você lembra do seu acidente? Como foi a dinâmica da batida?

DA MATTA: Como não tem o acidente gravado, vou dizer o que me lembro. Primeiro, eu peguei o bicho em uma curva em segunda marcha, então eu estava aproximadamente a 130km/h. A última coisa que me lembro, que me vem à mente como um flash foi ter sentido algo quebrar minha asa dianteira. Isso, logicamente, foi num milésimo de segundo, em seguida eu apaguei. Eu apaguei total, mas ainda tenho a visão total do bicho na pista. Fiquei internado por dois meses, sendo 28 dias em coma.

MOTORSPORT: Os médicos disseram que seu seu quadro era de provável morte?

DA MATTA: Eu não me lembro direito, mas meu pai, minha mulher, meus irmãos, todos que estavam lá disseram que os médicos diziam que eu era um "walking miracle", ou seja, um milagre que anda. Deve ter dado tudo certo demais em relação a tempo de socorro e em todas as variáveis. Na minha situação deu tudo certo.

MOTORSPORT: O que houve com seu cérebro? Existe alguma história marcante que sua família te contou?

DA MATTA: Por causa da pancada do bicho no capacete, meu cérebro começou a inchar muito, a pressão foi aumentando e eles tiveram que abrir a calota do crânio, para poder inchar, logo depois, desinchar, com o uso de medicamentos e depois eles colocam de volta. Mas fiquei "de cabeça aberta" por um mês e meio.

Já escutei tantas histórias sobre isso, que nem sei exatamente o que dizer, são muitas histórias dessa época em que estive internado. Para mim é estranho, porque não consigo lembrar dessa época. Dizem que acordei no hospital conversando com todos, mas não me lembro. Inclusive alguns pilotos foram me visitar, mas minha lembrança é zero.

MOTORSPORT: Como é sua vida hoje? Alguma sequela?

DA MATTA: Hoje eu não tenho limitação alguma. Fiz inúmeros exames para confirmar isso. Médicos do Brasil e dos Estados Unidos me falam que estou 100%, que está tudo bom demais. O médico que libera pilotos para correr, o Dr.Steve Olvey, me disse que estou liberado para correr e fazer o que quiser, posso saltar de paraquedas, posso fazer o que quiser. Só não me aconselhou a lutar boxe, senão iria tomar pancadas na cabeça, mas também não achei a melhor ideia do mundo.

MOTORSPORT: E o seu dia a dia?

DA MATTA: Trabalho com meus irmãos na empresa deles, na Da Matta Design, empresa que faz equipamentos para ciclistas. Começamos a fazer camisas, depois bermudas, meias, capacetes, sapatilhas, óculos, etc. Se você quiser ser um ciclista mountain bike, nós temos de tudo.

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