Entrevista

Giaffone: Incerteza sobre Indy na Band e novos projetos me fizeram sair

Piloto da Copa Truck fala com exclusividade ao Motorsport.com sobre final de parceria com emissora, mas avisa: “quero voltar a me envolver com isso”

Luciano do Valle e Felipe Giaffone

Luciano do Valle e Felipe Giaffone

Reprodução

Depois de pouco mais de dez anos na TV Bandeirantes, trabalhando como comentarista das provas da Fórmula Indy, Felipe Giaffone anunciou na última sexta-feira por sua conta no Instagram que deixou a emissora do Morumbi.

Com seis temporadas de Indy no currículo – incluindo uma vitória no Kentucky em 2002 – e atualmente consagrado na Copa Truck, Felipe optou por não renovar seu contrato com o canal devido a projetos paralelos – que incluem o Kartódromo da Granja Viana e a JL, que faz os chassis da Stock Car – e uma incerteza que rodeia as transmissões esportivas na emissora.

No ano passado, Téo José – maior voz da Indy no Brasil – já havia sido dispensado, e com apenas mais um ano de contrato da Band com a Indy, Giaffone entendeu que o momento era oportuno para se focar em outras áreas da vida.

“Não foi corte e não foi nada relacionado à Band”, disse Giaffone em entrevista ao Motorsport.com.

“Também não houve briga e nem nada. Realmente estava precisando de algo diferente, visto ali que a Indy também dentro da própria Band... eu não sei o quanto que vai (ficar) ainda. Pode ser que fique por muito mais tempo, mas eles têm contrato só de mais um ano.”

“Mas eu já vinha com alguns projetos um pouco diferentes que estavam ocupando o tempo. Eu ainda não tenho nada fechado para o ano que vem, mas tenho algumas coisas em andamento. Eu estava precisando dar uma resposta rápida para a Band se continuaria ou não com eles no ano que vem. Pensei em sair para tentar alguma coisa nova. Como disse, não tenho nada fechado, mas queria tentar possibilidades diferentes.”

“A verdade é que automobilismo em TV aberta está cada vez mais complicado, infelizmente. Talvez seja uma tendência normal a Indy ir para algum canal a cabo. Vamos ver. Tomara que fique em boas mãos, ou mesmo que siga na Band. Vamos ver.”

A experiência

Perguntado sobre como foi ‘mudar o lado do balcão’ na última década, Giaffone enalteceu o apoio que sempre teve da Band, da audiência e de seus colegas de cabine, como Téo José, Luciano do Valle e Eduardo Vaz. Para ele, as boas experiências o fizeram gostar ainda mais da função de comentarista.

“A experiência foi bem bacana. A Band comigo sempre foi nota 1000”, disse.

“Comecei fazendo uma corrida ou outra, e depois o Téo José forçou a minha entrada lá mais direta e forte, sendo contratado. Nem me lembro quando exatamente fui contratado, acho que em 2008. Então são dez anos, passando com diversas pessoas. Sempre foi uma coisa que gosto muito de fazer. É bem puxado porque é de fim de semana e eu já estou envolvido em muitas corridas, então acaba que a família reclama um pouquinho (risos).”

“Mas foi muito legal. Depois destes anos todos não tenho o que dizer. Foi uma relação muito boa com a Band.”

Felipe confessou que no início se dedicou à parte técnica para melhorar a dicção.

“No início eu fiz sessões de fonoaudióloga para me ajudar. Mas no fundo você vai no feeling das pessoas. É o que acontece.”

“Eu tive algumas pessoas lá que me ajudaram bastante neste tempo. O Zé Emílio, que hoje está lá novamente como editor-chefe, foi uma pessoa que sempre me bateu bastante no bom sentido. Sendo claro, quando você está em um canal aberto... o cara que gosta de corrida sempre vai te ouvir, mas o problema é tentar conquistar quem está do lado dele: a mulher, o filho. Então você tem que tentar passar a informação de uma forma que às vezes para quem conhece pode até parecer um pouco óbvio, mas o público na grande maioria não conhece muito. Ou sempre tem alguém do lado que não conhece.”

“Sempre tive isso na cabeça: tentar aproximar o automobilismo de pessoas que não curtem muito ou que estão só acompanhando a pessoa que está assistindo e que gosta. E acabou dando esse feedback legal. As pessoas falando: ‘eu nem me interessava muito, mas agora que você está falando eu estou entendendo algumas coisas’. Então, acho que foi uma mistura.”

As transmissões mais marcantes

Giaffone disse que seus momentos mais marcantes com o microfone foram nas famosas vitórias de Hélio Castroneves e Tony Kanaan nas 500 Milhas de Indianápolis, em 2009 e 2013 respectivamente.

“As vitórias tanto do Tony Kanaan quanto do Hélio Castroneves em Indianápolis foram muito especiais”, contou.

“Eu diria até que a do Hélio, que eu fiz com o Luciano (do Valle) tenha sido a mais marcante, porque ele tinha acabado de voltar do problema que ele tinha tido com a justiça americana. E daí ele chegou de cara e venceu aquela prova.”

Perguntado se chegou a se emocionar no momento da vitória, já que na transmissão Do Valle revelou após a bandeirada que ‘todos na cabine choraram’, Giaffone confirmou.

“Exatamente. E eu falei várias vezes para ele na hora: ‘não me chama agora, não me chama’. Fiquei bem emocionado.”

“É engraçado, porque quando eu estava lá na pista e quase ganhei, não chorei. Mas com o Hélio eu chorei junto, porque o Luciano nos dias empolgados dele, era um monstro. E foi isso, cutuquei ele e disse: ‘esquece de mim’. Não conseguia falar.”

“Mas a do Tony foi muito legal também, porque ele nunca tinha vencido e tinha batido na trave tantas vezes. Acho que são essas duas. Indianápolis é sempre um baita evento. O fato de eu ter vivido lá dentro e saber da importância... acho que muita gente vê a Indy esperando Indianápolis.”

Ele também destacou a prova de Las Vegas de 2011, que ficou marcada pela morte de Dan Wheldon após um acidente múltiplo assustador.

“A última vitória do Montoya em Indy foi bem legal também. Então, nós tivemos momentos legais, mas também momentos tristes como a morte do Dan Wheldon. Certamente foi o pior momento.”

“Eu tive um caso muito específico com ele. Eu tive uma batida feia com ele no Kansas em 2003, me machuquei e ficamos sem nos falar por algum tempo. Depois nos tornamos bons amigos e ele veio aqui correr de kart algumas vezes na Granja Viana. E no fim acabei comentando a morte dele, infelizmente. Este foi um dos momentos mais difíceis com certeza.”

Página virada?

Perguntado se seu fim na Band representa uma página virada na carreira de comentarista, Giaffone negou. Para ele, atuar como comunicador ligado ao automobilismo foi um grande prazer e algo que gostaria de voltar a fazer no futuro.

“Eu sempre gostei muito disso”, disse.

“Acho que de uma forma ou de outra eu estarei envolvido. Não tenho certeza se diretamente em corrida e tudo. Mas é uma coisa que eu quero. E eu faço com prazer. Então, se for alguma coisa que faça sentido – a Indy ou outra categoria – é algo que eu vejo com bons olhos.”

“Porque no fundo o meu dia-a-dia é corrida. Sou piloto, tenho o kartódromo e tenho a minha família na JL lá na Stock Car. Então vivemos 100% o automobilismo.”

“Então se torna até mais fácil comentar algo que está tão presente no meu dia-a-dia. Não é algo que vou virar a página e falar ‘não quero mais’. Pelo contrário, eu sei que minha carreira de piloto daqui a pouco acaba e acho que de uma forma ou de outra estarei envolvido creio eu.”

Be part of Motorsport community

Join the conversation
Artigo anterior Melhor novato da Indy 500 de 1972 morre aos 77 anos
Próximo artigo McLaren: Estar na Indy ajuda a aumentar apelo para patrocinadores

Top Comments

Ainda não há comentários. Seja o primeiro a comentar.

Sign up for free

  • Get quick access to your favorite articles

  • Manage alerts on breaking news and favorite drivers

  • Make your voice heard with article commenting.

Motorsport prime

Discover premium content
Assinar

Edição

Brasil