Opinion

ANÁLISE: O que as estatísticas de quedas da MotoGP em 2023 dizem sobre a introdução das sprints?

Dá para atribuir toda a culpa à introdução das corridas de sábado?

Race start, Luca Marini, VR46 Racing Team, Pol Espargaro, Tech3 GASGAS Factory Racing, Stefan Bradl, Team LCR Honda crash

Foto de: Gold and Goose / Motorsport Images

Nenhuma corrida da temporada 2023 da MotoGP contou com todos os titulares do ano simultaneamente no grid, com as lesões afetando de ponta a ponta. Muitos apontaram os dedos para a introdução das sprints, e uma olhada pelos dados de quedas de 2023 mostram que o ano trouxe o maior número de incidentes em uma década. Mas podemos realmente jogar toda a culpa nas sprints?

Ame-as ou odeia-as, as sprints chegaram para ficar na MotoGP. A introdução pode ter sido repentina e pesada, mas o objetivo principal era aumentar o interesse das pessoas pela categoria. E os números de 2023 mostram que isso definitivamente aconteceu nos autódromos.

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Dos 20 GPs de 2023, 15 deles mostraram um aumento na presença de público no sábado. Do resto, não temos os números de Austin, a Índia fez sua estreia, Indonésia e Argentina tiveram uma leve queda, e a Austrália teve uma mudança na programação, com o GP passando para o sábado por causa das condições climáticas. No geral, 16 eventos superaram os números de 2022.

Há outros fatores que precisam ser considerados. A temporada de 2022 ainda foi muito afetada pela Covid-19, então alguns eventos certamente foram impactados. O GP da França de 2023 registrou o recorde histórico de público, com 278.805 pessoas. Mas a França tem dois pilotos muito populares (Fabio Quartararo e Johann Zarco), e a organização do evento nas mãos de Claude Michy - além de seu efetivo custo por pessoa - sempre fez com que Le Mans fosse mais uma exceção do que a regra.

Mas causa e efeito também precisam ser considerados: a MotoGP adicionando uma alternativa de entretenimento em vez de um quarto treino livre coincide com um ano de forte presença nos autódromos. E, por isso, a Dorna merece o crédito por evoluir uma categoria que estava estagnada há alguns anos.

Mas o fato de que nenhuma das 39 corridas feitas em 2023 (a sprint da Austrália foi cancelada), seja GP ou Sprint, não tenha contado com o grid inteiro, é uma estatística preocupante que vem ao lado de 2023 ter sido a temporada com mais quedas em uma década.

Foram 358 quedas ao longo das 20 etapas feitas pela MotoGP em 2023 em uma amostra dada pela Dorna à imprensa com a coleta começando em 2010. Naquele ano vimos o menor registro, com 134, quando apenas 17 pilotos competiram em 18 etapas, contra 22 pilotos em 2023.

Comparado com as 335 quedas de 2022, porém, o aumento foi de apenas 23. No total do ano, 49 quedas vieram nas sprints. Dos nove pilotos que perderam corridas ano passado, cinco deles sofreram lesões nas sprints: Enea Bastianini em Portugal, Luca Marini na Índia, Miguel Oliveira no Catar, Joan Mir na Argentina e Álex Rins na Itália.

Bastianini foi a primeira vítima da sprint logo em sua corrida de estreia pela Ducati

Photo by: Gold and Goose / Motorsport Images

Bastianini foi a primeira vítima da sprint logo em sua corrida de estreia pela Ducati

Porém, a maioria das quedas aconteceu nos GPs - 86 em total. Ao longo da temporada, vimos vários acidentes nas largadas. Isso não é necessariamente uma questão relacionada às sprints, mas uma estatística talvez possa apontar para os motivos para isso - e o aumento geral de quedas em 2023 - sendo pelo menos causada em parte pela mudança do fim de semana.

Ao longo do segundo treino livre da sexta-feira, com o fim do TL2 determinava os grupos de classificação, tivemos 108 quedas. Em 2022, foram apenas 50, quando o TL3 do sábado determinava os grupos. TL2 e TL3 em 2022 combinados totalizaram 118 quedas.

O novo formato com a sprint aumentou a importância da sexta-feira. Terminar fora do top 10 poderia ser desastroso para o resto do fim de semana, pela necessidade de disputar o Q1 no quali. 

Uma das maiores vítimas do novo formato foi Pol Espargaró, da Tech3 GasGas. Ele sofreu lesões horríveis em uma queda feia no fim do TL2 do GP de Portugal, a primeira etapa do ano. O espanhol ficou de fora até agosto, voltando no GP da Grã-Bretanha, e ainda perdeu sua vaga para 2024.

A mudança para que apenas o TL2 determinasse os grupos de classificação a partir do GP da Grã-Bretanha foi tomada apenas após protestos dos pilotos sobre o grande stress e a segurança. O número de quedas após essa novidade (12 etapas no total), registrou uma queda a mais em comparação a 20 TL1s, 11 acima dos 20 Q2 do ano e apenas seis a menos que as 19 sprints.

O aumento no número de quedas em 2023, porém, não pode ser atribuído apenas às sprints. A nova pressão dos pneus, especialmente o dianteiro, combinado com o fluxo aerodinâmico das motos modernas tornaram as ultrapassagens mais difíceis. O efeito dominó é visível.

Uma janela pequena antes do pneu dianteiro torna-se precário com essa nova pressão levou a uma necessidade dos pilotos terem que sair rapidamente do ar sujo. As dificuldades em ultrapassar não somente colocam seu pneu dianteiro em condição ruim como também dificultam a possibilidade do piloto avançar pelo grid. E a necessidade de forçar a barra aumentam as chances de uma queda.

Mas as sprints forçam os pilotos a fazerem isso duas vezes por fim de semana. Então, enquanto o novo formato não podem ser totalmente culpado pelo aumento nas quedas, há definitivamente uma correlação que não pode ser ignorada.

Quartararo acredita que a sprint é tão cansativa quando o GP, e questiona seu posicionamento permanente no calendário

Photo by: Gold and Goose / Motorsport Images

Quartararo acredita que a sprint é tão cansativa quando o GP, e questiona seu posicionamento permanente no calendário

"Não é uma coincidência, é um grande problema", disse Quartararo no ano passado sobre o dado das corridas não contarem com o grid titular. "Esse já é um esporte perigoso mas, como piloto, posso te garantir que, na sprint, você se cansa até mais que na corrida longa. E a moto que usamos é cada vez mais física. Não acho que precisamos de uma sprint em cada GP. Você está em Valência, é o fim da temporada, todos já estão cheios, você quer colocar mais uma no sábado?".

"Não podemos fazer mais isso. Não sou o cara que organiza tudo. Não sei qual é a opinião dos outros pilotos, mas não acho que esse seja o modo correto".

A opinião de Quartararo é compartilhada por vários pilotos, mas há outros que pensam o contrário também. Essa é a natureza humana - nunca será possível agradar completamente a todos. Geralmente, no automobilismo, sua opinião é moldada do ponto de vista da posição que você frequentemente está nas corridas.

Como já mencionado, a MotoGP viu um aumento nos públicos de sábado em 2023 em relação aos anos anteriores. Nesse sentido, a sprint é um sucesso. E, dessa perspectiva, não dá para argumentar contra a categoria mantendo o formato como está.

O que se sobressai é o fato de que nenhum piloto do grid de 2023 esteve presente em todas as corridas do ano, porém, eles ainda apareciam na abertura transmitida minutos antes para todo o mundo. Lesões acontecem na MotoGP, mas construir uma marca em torno de rostos que os fãs casuais nem sempre veem não é algo sustentável.

Reduzir o número de sprints por ano não somente traria variedade ao campeonato, criando pontos críticos na campanha, como também teria um efeito dominó na quantidade que quedas que temos hoje.

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Photo by: Gold and Goose / Motorsport Images

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