Com exclusividade, Barros fala sobre sua última vitória na MotoGP

Dez anos depois, ex-piloto revive GP de Portugal de 2005, quando liderou todos os treinos e dominou a corrida.

Pódio: vencedor Alex Barros com Valentino Rossi

Pódio: vencedor Alex Barros com Valentino Rossi

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Pódio: vencedor Alex Barros celebra
Alex Barros e Max Biaggi
Pódio: vencedor Alex Barros com Valentino Rossi e Max Biaggi
Acidente de Sete Gibernau
Vencedor Alex Barros celebra com o dono de sua equipe Sito Pons
Pódio: Valentino Rossi
Vencedor Alex Barros celebra com Valentino Rossi
Sete Gibernau
Acidente de Sete Gibernau
Valentino Rossi
Alex Barros no grid de largada
Alex Barros
Max Biaggi

Nos dois últimos anos, Marc Márquez conseguiu três vezes liderar todas as sessões livres, fazer a pole, volta mais rápida e ganhar a corrida. Algo que não é nada usual se tratando de um esporte disputado no mais alto nível, como a MotoGP. Márquez é um fora de série, não há margem para discussão. Mas, o que provavelmente você não sabe, é que a última das sete vitórias do brasileiro Alexandre Barros no mundial foi tão soberana quanto.

Usando uma moto satélite da equipe Pons (que hoje atua na Moto2), o piloto dominou o final de semana da segunda etapa da temporada de 2005, no Estoril. Liderou todos os treinos livres, fez a pole, a volta mais rápida e venceu. Uma história tão legal que Motorsport precisava recontar. Confira o bate-papo exclusivo que fizemos com o melhor piloto da história do nosso país:

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Motorsport: O que lembra daquela corrida em Portugal? Como se preparou?

Alexandre Barros: Estava bem, fizemos um início de temporada muito bom naquele ano. Tinha um quarto lugar na Espanha e vencemos em Portugal. Essa vitória foi graças a um pneu que desenvolvemos com a Michelin. Um grande trabalho que fizemos com o pneu dianteiro, testamos mais de 60 compostos antes da primeira corrida. Tínhamos feito um pneu completamente diferente do que existia. E deu certo. Esse trabalho foi parte importante disso.

Motorsport: Mas você vinha de dois anos sem vitórias, 2003 e 2004. O que havia dado errado?

AB: Na Yamaha o problema foi o projeto da moto. E não foi só comigo. Todos os pilotos da Yamaha tiveram problemas e tiveram muitos acidentes. Me machuquei muito. Acabei levando essas lesões quando fui para a Repsol Honda em 2004. Eu cheguei a operar meu ombro e tal, mas só comecei a ficar bom da metade da temporada para frente. Você pode ver: os resultados da metade do campeonato para frente melhoram. Não cheguei a ganhar, mas fui para vários pódios. Foi um ano difícil para mim por isso.

Motorsport: Esse pneu da Michelin era exclusivo de vocês ou outros times tinham acesso?

AB: Não. Eu só desenvolvi o pneu. Eles tiveram acesso, sem dúvidas. Eram equipes de fábrica. Mas como o desenvolvimento foi meu diretamente com a Michelin, conhecia melhor o composto. Porém, obviamente, também soubemos acertar a moto lá. Não é que foi só o pneu, foi o conjunto completo.

Motorsport: Falando de pneus, você fez a pole no sábado com os pneus de classificação (abolidos após 2008). Você gostava disso nos treinos?

AB: Olha, nunca fui muito bem com eles não. A Bridgestone começou a fazer pneus de classificação, aí a Michelin teve que fazer também. Foi, no caso, porque a concorrência puxou. Mas sempre fui melhor nas corridas. Para mim, tinha gente que tirava mais proveito do pneu de classificação do que eu. Mesmo assim, naquele final de semana liderei todos os treinos. Fiquei em primeiro todo o final de semana. E é uma coisa que não é todo mundo que consegue na carreira.

Motorsport: Pois é. Muitos campeões do mundo não conseguiram isso...

AB: É, pois é. É o que eu sempre digo, tivemos muita sorte naquele fim de semana.

Motorsport: E você fez isso em uma moto satélite, o que deixa tudo mais impressionante. Quais eram as diferenças entre a sua Honda e as de fábrica em 2005?

AB: Eletrônica, motor e pouca coisa de ciclística. Sempre tínhamos peças um pouco diferentes.

Motorsport: Mas hoje é muito mais difícil de ver uma moto satélite andando junto com as de fábrica...

AB: A eletrônica grita um pouco mais alto hoje. Naquela época ela estava começando. Ela ainda estava bem crua. Hoje, como a eletrônica tem muita eficiência, tirar essa diferença é muito mais difícil. Se a sua eletrônica for um pouquinho melhor, em uma corrida a diferença é muito grande.

Motorsport: Vamos então à corrida. Você não largou bem, caiu para sexto, mas se recuperou nas duas primeiras voltas e foi à caça do Sete Gibernau, que tentava abrir na ponta. Como foi?

AB: Foi bom o duelo. O Sete estava imprimindo um ritmo muito rápido. Eu estava na cola dele, consegui encostar depois de me recuperar, só que da metade da corrida para frente começou a garoar em uma parte da pista. Aí apertou. Resolvi ficar atrás, usei ele como “coelho”, vamos dizer assim. Ele entrava na curva de um jeito, eu entrava junto. Mas estava chuviscando demais. Conseguimos abrir quase dez segundos do Valentino Rossi e do Max Biaggi em poucas voltas, porque eles deram uma maneirada. Só que o Sete estava puxando, num puta pau. Depois de um pouquinho ele caiu. Aí na hora que ele caiu, tirei a mão. Comecei a administrar o tempo que eu tinha para o segundo. Foi uma estratégia ficar atrás dele pelo risco que ele estava tomando. Aí depois não teve erro.

Motosport: No fim você quase caiu. O que aconteceu ali?

AB: É, dei uma tocadinha na linha branca molhada na última volta. Foi um susto, é verdade. Saí de lado.

Motorsport: Mas a sensação de voltar a vencer, e de uma forma tão soberana, deve ter sido muito legal...

AB: Foi muito bom. Eu estava bem confiante. Foi o primeiro ano sem o GP do Brasil, então tínhamos muitos brasileiros em Portugal. Acho que o pessoal usou o pacote para a corrida no Rio e acabou indo para lá. Devia ter mais ou menos um quarto de torcida brasileira lá em Portugal. Tenho parentes em Portugal também.

Motorsport: Por que você não teve mais o mesmo rendimento durante o restante daquela temporada?

AB: Aí entra um pouco o lado político das coisas. A MotoGP é uma categoria que isso conta também. Eu digo que hoje ser brasileiro faz bem, na minha época não tive tanta atenção. Mas hoje eles precisam de pilotos brasileiros lá.

Motorsport: Você diz isso pelo fato de ter muitos espanhóis e italianos?

AB: Mais pelo mercado. O mercado de motos no Brasil é muito importante. Hoje em dia temos muitas fábricas.

Motorsport: Você diria que só falta uma pista nos padrões da FIM para se ter uma corrida aqui?

AB: Com certeza.

Motorsport: Você ainda teve outro pódio em 2005, em Donington. Valentino estava bem, mas você também liderou bastante aquele GP...

AB: Aquela corrida eu só perdi por causa do capacete, da viseira. Nas últimas dez voltas não enxergava nada. Liderei quase a prova toda e perdi no final porque não enxergava mais nada. Foi uma grande pena. Tinha uma grande chance de ganhar aquela prova.

Motosport: Não posso deixar de perguntar. Você era muito amigo do Sete Gibernau e do Valentino Rossi. Como encarou a briga dos dois e a pressão do Valentino para cima do Sete, falando que ele nunca mais ganharia? Abalou o Sete psicologicamente? (Nota: o espanhol havia protestado contra o fato do italiano limpar sua posição no grid no Catar em 2004. Valentino largou de último e prometeu que Gibernau não ganharia mais nenhuma prova).

AB: Não é que era psicológico. O Valentino fazia de fato pressão no Sete. Sinceramente, não sei o que aconteceu, mas o Sete não voltou a ganhar depois disso. Depois ele até chegou a ter uma vitória na mão na Alemanha, mas na última volta ele errou a primeira curva e foi para fora. Errou sozinho ali, Rossi ganhou de bandeja. Mas, sei lá. Existia um comentário entre eles, mas eu não me metia. Isso era entre os dois.

Motorsport: Por que você não ficou na MotoGP em 2006? Algo a ver com a Pons estar em crise?

AB: Não. Na verdade nós não chegamos a um acordo.

Motorsport: No seu Facebook você postou algumas fotos com o Gibernau no início deste ano. Ele está te ajudando no seu projeto de revelar novos pilotos?

AB: Isso. Na verdade, estamos fazendo um projeto só eu e ele, diferente do que eu estou fazendo aqui no Brasil. Ele está querendo ajudar no meu projeto, colaborar também. E mais porque quer mesmo, sem fazer propaganda. Ele ainda anda e treina, muito bem. Eu já perdi um pouco a forma, mas ele tá em forma.

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