Entrevista

Fausto Macieira: achei que seria demitido quando Barros saiu

Em entrevista exclusiva ao Motorsport.com Brasil, comentarista do SporTV relembra começo nas transmissões do Mundial de Motovelocidade, fala sobre momento atual da MotoGP e projeta o futuro do Brasil na categoria

Coletiva Franco Morbidelli

Foto de: Gustavo Lima/Motorsport.com

Um apaixonado por motociclismo. Este é Fausto Macieira (à direita na foto acima), comentarista do Mundial de Motovelocidade no SporTV, canal que transmite as provas da categoria no Brasil. Aos 61 anos, Macieira segue com a empolgação de um garoto ao lado de Guto Nejaim, narrador que completa a dupla que conduz as transmissões no canal de TV a cabo.

Em uma entrevista exclusiva para o Motorsport.com Brasil, o comentarista relembra o início da carreira, revelando receio de demissão quando Alexandre Barros se aposentou da MotoGP, além de projetar o futuro das transmissões no SporTV e do Brasil dentro do Mundial de Motovelocidade.

Início da história com motos, entrada no SporTV e parceria com Guto Nejaim

Macieira sempre esteve em contato com as motos - primeiro dentro da pista, para então seguir ligado a elas quando se retirou das competições. Ao chegar ao SporTV, em 1996, o comentarista teve alguns companheiros de transmissão - entre eles Sérgio Maurício - antes de iniciar a parceria com Guto Nejaim, existente desde 2009.

“Fui piloto de Motocross, ganhei algumas corridas, fui campeão carioca. Depois que parei, abri uma loja de acessórios de motos – pois não conseguia ficar longe – comecei a patrocinar pilotos e a partir dali comecei a escrever sobre eles, pois a visibilidade sempre foi pequena para o motociclismo no Brasil.”

“Então fui para um programa do João Mendes na CNT, o 'Bike Show', que marcou época na TV aberta. Em 1996, o João me levou para o SporTV e estou lá até hoje, quase 22 anos depois.

“No início, fazia as corridas com quem estivesse de plantão e as pessoas não gostavam muito porque as corridas começam às 6h e o narrador tem que chegar mais cedo – eu chego duas horas antes de qualquer evento, feliz da vida, para ver o warm up.”

“Depois, comecei a fazer fixo com o Sérgio Maurício, que é um excelente narrador e tem origem no esporte a motor. Em 2009, o Sérgio foi especificamente para os carros e o Guto (Nejaim) passou a fazer a MotoGP.”

“O ritmo do Guto é muito bom, ele é entusiasmado, coloca emoção na narração – o que acho importante. As transmissões são enormes – quatro horas de corrida, mais três e meia de treino – e é difícil você não errar."

"Estando longe, recebemos menos informações, são muitas motos e muita coisa acontecendo. Mas nós conseguimos uma sintonia muito boa, o Guto no entusiasmo e eu procurando colaborar de alguma forma com informações que sejam interessantes. Tem sido assim e tem dado certo.”

“Desde 2013, começamos a ir a algumas etapas, foram duas naquele ano. Desde então temos ido a três provas por ano – exceto por 2014, ano de Copa do Mundo, que acabou com o orçamento de todo o resto, pois o que não é futebol no Brasil é resto.”

“Eu sou suspeito para falar, mas acho que a MotoGP é a melhor transmissão do SporTV em termos visuais. E o campeonato está demais, absolutamente incrível! Em nove corridas, cinco vencedores diferentes, quatro trocas na liderança e dez pilotos diferentes no pódio – não houve nenhum pódio igual em 2017 até agora.”

“Em 2016, dizíamos que era o melhor campeonato da história, mas 2017 tem sido ainda melhor. Ficamos felizes em divulgar isso, em participar de eventos e esperando que pilotos brasileiros surjam novamente.”

Batalha por espaço na programação, susto com aposentadoria de Barros e projetos para o futuro

Quando o comentarista iniciou a carreira no SporTV, o canal transmitia apenas a categoria principal, com as motos de 500cc na época. Desde então, Macieira conta que conquistou algumas vitórias e mais espaço dentro da programação.

Macieira revela que cada conquista exigiu muito trabalho e que chegou a temer pela continuidade no SporTV ao final de 2007, quando Alex Barros se aposentou da MotoGP. Mas a força do campeonato, com corridas boas e nomes fortes, garantiu não somente a permanência do comentarista, como dá a ele elementos para buscar ainda mais espaço para o Mundial de Motovelocidade dentro do SporTV.

“É sempre uma luta, o futebol meio que abafa todos os outros esportes. O Brasil teve um grande momento (na MotoGP) com o Alex Barros, mas ele não conseguiu traduzir aquilo em um título. Depois que ele parou, ficamos desamparados – eu achei que seria demitido!”

“Mas o campeonato é tão bom que ainda que não tenhamos um brasileiro para quem torcer, continua sendo interessante – tem o (Valentino) Rossi, tem Marc Márquez em um grande momento – então a MotoGP se sustenta.”

“Quando eu comecei no SporTV, só passávamos as 500cc. Eu chegava cedo, ficava assistindo às provas das 125cc e das 250cc e pensava ‘não é possível que não transmitimos essas corridas’. Se não tivéssemos os direitos de transmissão, nem receberíamos as imagens.”

“Aí fui falar com um amigo do departamento jurídico para ver o que poderíamos fazer e começamos a transmitir – essa foi a primeira vitória. Desde 2012, transmitimos os treinos de classificação. Mas a mudança no formato dos treinos (em 2013) foi ruim, televisivamente falando – temos o TL4 no meio das classificações e ele não vale para quem está assistindo.”

“Agora eu estou batalhando para que a gente transmita os treinos de sexta-feira, pois em caso de chuva eles definem os dez que passam direto para o Q2 – além do TL3, na manhã de sábado, que também não transmitimos.”

“Talvez comecemos a fazer isso via internet e depois consigamos transferir isso para a TV – a gente transmite os treinos livres da Fórmula 1, que não definem nada, e não passamos os da MotoGP, que podem definir.”

“De qualquer forma, acredito que conseguimos conquistar muita coisa, há alguns espaços crescendo para o motociclismo. Falta expandir mais para o país, pois sofremos com a falta de visibilidade – mas isso não é um problema apenas da MotoGP, tudo o que não é futebol no Brasil sofre.”

MotoGP é forte, mas falta um brasileiro para consolidar categoria no país

Ainda que considere a MotoGP uma categoria que chama a atenção do público brasileiro mesmo sem um representante do país no Mundial, Macieira considera que falta um piloto que coloque a bandeira do Brasil no rol de campeões mundiais para que a categoria se consolide de fato no território nacional.

O comentarista analisa fatores dentro e fora da pista e cita outros países para ilustrar as dificuldades brasileiras em conseguir se destacar no cenário mundial. Ainda assim, Macieira se mostra otimista e aposta que os jovens que começam a se destacar lá fora podem se tornar nomes fortes do país na MotoGP no futuro e ajudar a trazer uma etapa de volta para o Brasil.

“Eu acho que o campeonato é muito forte, mas falta um brasileiro. Tivemos a referência do Guga (Kuerten) hoje temos poucos brasileiros no tênis, mas o espaço do esporte foi conquistado. No vôlei tivemos equipes que conquistaram títulos e isso abriu caminho para outras, tivemos o Emerson (Fittipaldi) na F1.”

“Na MotoGP, não tivemos uma referência definitiva. O Alex esteve lá por muito tempo, representando o país com brilhantismo, mas com todas as dificuldades que um brasileiro tem em um esporte tão caro.”

“Colocar gasolina é caro, andar de moto é perigoso no Brasil – não somente pelo perigo em si, mas pelo risco de roubarem a sua motocicleta. Franco Morbildelli (ítalo-brasileiro que lidera a Moto2 em 2017) vem de família humilde, mas na Itália há condições de crescimento, pois outros esportes além do futebol são fortes por lá."

“Os EUA também não estão em uma grande fase em termos de pilotos, porque as motos esportivas vendem muito menos por lá atualmente. Então eles não têm um empenho para sair da zona de conforto deles.”

“Essa é uma dificuldade, certamente se o Brasil tiver uma referência as coisas podem melhorar. Por isso espero que o Eric volte ao Mundial em 2018, torço, faço votos. Acho que ele teve uma carreira que começou errado, iniciando na categoria intermediária. É como se você começasse a lutar judô e entrasse na faixa amarela: você vai apanhar, tem que entrar pela faixa branca.”

“Então espero que ele e que outros pilotos que estão lá brigando, como o Renzo (Ferreira, piloto da categoria WSSP300, preliminar do Mundial de Superbike) e o Meikon Kawakami (na Rookies Cup, preliminar das três classes do Mundial de Motovelocidade) possam chegar lá, espero que eles cheguem. E que, com eles, tenhamos força para trazer a MotoGP de volta para o Brasil.”

“Agora é esperar pela segunda metade da temporada, estou ansioso pelo GP da República Tcheca ao vivo no SporTV. Braaaapp!”, encerrou Macieira, com o bordão marcante utilizado na abertura e encerramento das transmissões.

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