Conteúdo especial

História e acervo: conheça "museu" do autódromo de Curitiba

Com paredes cheias de momentos marcantes, dono de lanchonete sente perda da pista e admite que vai ser estranho passar finais de semana em casa

1457453694

1457453694

1457453696
1457453689
1457453693
1457453683
1457453688
1457453690
1457453700
1457454957
1457453697
1457453698
1457453692
1457453691
1457453686
1457453687

Quem pisa no paddock do Autódromo Internacional de Curitiba pela primeira vez normalmente tende a notar um fato curioso: todas as casas atrás dos boxes têm em seus vidros adesivos temáticos de automobilismo. A maior delas, em especial, possui dentro um acervo invejável. Um museu? Quase.

Basta entrar para sentir a história do autódromo passando por você. Mas lá os cheiros de óleo e combustível dão lugar ao das frituras feitas na chapa, localizada à esquerda de quem entra. Quando olhamos ao redor, não tem como não se deslumbrar. Pôsteres emoldurados por todas as partes, não deixando quase espaço para o branco das paredes 'respirar'.

Basta olhar um pouco mais de perto para ver o valor inestimável de tudo aquilo. Autógrafos e dedicatórias de pilotos como Raul Boesel, Ricardo Zonta e até mesmo Alessandro Zanardi para o dono do local.

Renato Cavichiolo, 55, trabalha na pista desde 1988, antes da reforma que fez o Autódromo Internacional de Curitiba se tornar um dos mais importantes do Brasil. Ajudando a transformar o local no início dos anos 90, ele se tornou chefe de pista quando o circuito passou por sua reforma mais importante, terminada em 1996. Desde então, a pista recebe ininterruptamente a Stock Car.

Enquanto tirava fotos para esta matéria, ele disse de maneira bem-humorada: “registre porque daqui a pouco tudo vai embora”. A pista deverá funcionar até a metade do ano, quando deverá ser vendida para se tornar um condomínio de casas.

Ele contou sua história: “fui chefe de pista por 11 anos quando reabrimos. Organizava treinos para equipes, preparava a pista para as corridas e mantinha o autódromo conforme as exigências da FIA”.

“Só que em 2006 eu tive um problema de saúde, e aí resolvi parar. Desde então só toquei a lanchonete, que é familiar. Sou eu, meu irmão gêmeo, a minha irmã e a minha mãe.”

“O autódromo fechar vai ser estranho. A gente que conviveu aqui mais de 25 anos e vai ter um momento neste ano que nós não vamos poder mais vir aqui. É uma perda para o automobilismo.”

Fundada em 1967, a pista localizada em Pinhais é a segunda que mais recebeu provas de Stock Car. A corrida deste domingo foi a 53ª. Toda esta relevância histórica encontra-se representada nas paredes da sempre movimentada lanchonete.

A pedido do repórter, ele aponta seus souvenirs favoritos: “tenho ali o José Córdoba, que é amigo meu desde o kart. O Ricardo Zonta também está ali. Tem o Zanardi, que eu também conheci. Ele colocou uma dedicatória para mim no quadro”, diz com orgulho.

“Tem o Raul Boesel, campeão de Jaguar do Mundial de Marcas em 1987. Tem o ‘seu Barranco’ que faleceu há pouco tempo. Tem bastante história aqui.”

O acervo irá todo para uma chácara de sua família a partir de junho. Mas, mesmo chateado com o fim da pista, Renato é realista. “Não sei nem se empata (o custo).”

“O ‘Peteco’ (Jauneval de Oms, dono do autódromo) já teve ter posto grana do bolso para segurar isso aqui. Um autódromo sem manutenção adequada e periódica facilmente se deteriora, acaba em um ano. Sei disso porque já fui chefe de pista. Sentimos muito a perda, mas ele sabe o que está fazendo. O custo de um autódromo não é uma coisa fácil.”

Ainda assim, Renato não esconde a emoção de estar virando uma bela página de sua vida. “O principal de tudo é que você vai deixar de ver pessoas e amigos que está acostumado ver duas ou três vezes por ano. São pessoas que você só vai manter o contato pela internet ou viajando para ver. Fica difícil, claro.”

“Agora acho que é inviável tentar ir para Londrina ou Cascavel depois de tantos anos aqui. Não vivo do bar, eu e o meu irmão tiramos o sustento de um estacionamento.”

“Acho que a ficha vai cair só quando passar os sábados e domingos em casa. Porque isso aqui é um hábito. Vou pensar: ‘não tenho mais o que fazer aos sábados e domingos’.”

Mesmo com a partida ele sabe que escreveu uma boa história. “Tenho que lidar com tudo isso numa boa.”

“Conheci muita gente aqui, muita gente me conhece. Me chamam de ‘alemão’. O pessoal antigo da Stock Car me conhece, porque organizava treinos nesta época. Época do Fábio Sotto Mayor, Ingo Hoffmann, Chico Serra, Paulão Gomes, Plínio Giosa, Flávio Trindade, Adalberto Jardim... essa fase. Isso eu vou levar de recordação.”

Para ele, a memorável corrida de Stock Car, quando Ingo Hoffmann partiu de último e venceu foi o melhor momento de todo este tempo. "Foi 1998 e estava chovendo", lembrou.

Terminamos nosso papo. Pedi para tirar uma foto e fui embora. Mais tarde, depois de nossa longa conversa, retornei para fazer mais fotografias, enquanto os filhos de Rubens Barrichello lanchavam após a prova.

Encontro de gerações do automobilismo? Claro. Pena que seja uma das últimas vezes por lá.

Be part of Motorsport community

Join the conversation
Artigo anterior Coluna do Átila Abreu: A escolha certa
Próximo artigo Esperando investigação, Cacá não descarta processar CBA

Top Comments

Ainda não há comentários. Seja o primeiro a comentar.

Sign up for free

  • Get quick access to your favorite articles

  • Manage alerts on breaking news and favorite drivers

  • Make your voice heard with article commenting.

Motorsport prime

Discover premium content
Assinar

Edição

Brasil